Encontro de Tocadores
Flauta de Tamborileiro
Os instrumentos e os seus tocadores
. . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . .O tamboril e flauta,
tocados por uma só pessoa, é, em Portugal, uma forma rara e pouco representativa -
que existe, pelo menos actualmente apenas em duas regiões delimitadas e afastadas uma da
outra...
O tamboril é, de um modo geral, um tambor pequeno, que, num sentido preciso,
mostra bordões sobre ambas as peles, embora se toque só numa delas, como as caixas. Ele
aparece nestes termos em Trás-os-Montes, na faixa fronteiriça de Rio de Onor e Terras de
Miranda, e é mesmo muitas vezes uma mera caixa, à qual se aplicaram bordões nos dois
lados.
Em Rio de Onor, o tamboril acompanha a gaita-de-foles nas mesmas ocasiões em
que esta se usa, e toca-se em posição horizontal, com duas baquetas, ambas sobre a mesma
pele; em Terras de Miranda, onde ele é muito popular e de especial agrado do povo, ele
toca-se de igual maneira, com grande maestria, geralmente a acompanhar a dança, com o
bombo, a gaita, a fraita, os ferrinhos, castanholas e «carracas» (conchas de vieiras);
mas muitas vezes tocam-no mesmo sozinho, sem acompanhamento de qualquer outro instrumento,
podendo as pessoas dançar horas sem fim, apenas com o seu rufar.
O Tamborileiro Virgílio Augusto Cristal
a tocar na Eira para um grupo de bailadores. |
O tamboril e flauta, tocados por uma só pessoa, num conjunto instrumental
unitário e coerente, é, em Portugal, uma forma rara e pouco representativa, que existe,
pelo menos actualmente, como vimos, apenas em duas regiões delimitadas e afastadas uma da
outra: em algumas aldeias raianas de Terras de Miranda, no Leste trasmontano, como
elemento instrumental fundamental das festas em que têm lugar Danças de
Pauliteiros, dos Velhos, Festas de Rapazes, Presépios de Natal, ofícios e certas outras
solenidades religiosas , a par ou em lugar da gaita-de-foles, em funções de
nítido carácter cerimonial e até litúrgico, e também em funções profanas e
lúdicas, fiadeiros e outras diversões avulsas e acontecimentos de menor vulto, ao
serviço da velha música característica dessa zona; e na faixa alentejana além
Guadiana, associado às festas religiosas patronais ou principais das várias localidades,
aí apenas em funções cerimoniais qualificadas, servindo uma curta fórmula musical
puramente ritual, que nada tem que ver com a música corrente da região. Em cada uma
delas, ele mostra certos caracteres comuns, e, por outro lado, diferenças muito
sensíveis.
O pífaro, como instrumento deste conjunto a flaita ou gaita , é,
como dissemos, um tipo de flauta doce, com fenda em bisel, por onde se sopra, e com três
furos no topo oposto: dois na face superior, para o indicador normalmente da
esquerda , e um na inferior, para o polegar; o instrumento segura-se e toca-se com
essa mesma mão, firmado na boca e, no outro topo, pelo polegar e pelos dedos mínimo e
anelar dessa mão.
No Alentejo, ele tem, para esse efeito, umas pequenas molduras apropriadas, onde
encaixam estes dedos: o mínimo por baixo e o anelar por cima. Em Trás-os-Montes, onde
tais molduras não existem, o mínimo apenas ampara o pífaro de topo. O tamboril vai
suspenso desse mesmo braço, por uma pequena correia, e é batido com a baqueta única,
empunhada pela mão direita. Os tamboris e flautas dos tamborileiros trasmontanos, a
despeito do seu uso cerimonial, nenhum carácter colectivo possuem.
(Extraído e adaptado do livro
"Instrumentos Musicais Populares Portugueses", de Ernesto de Oliveira e Benjamim
Pereira, Gulbenkian, 2000).