Encontro de Tocadores
Concertina
Os instrumentos e os seus tocadores
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. . . . . . . .O instrumento
chinês Cheng, que foi introduzido na Europa em 1777, parece ter estado na origem da
concertina. É um instrumento largamente difundido na música de raiz tradicional
Europeia.
O instrumento chinês Cheng, que foi introduzido na Europa em 1777, parece ter
estado na origem das ideias utilizadas para o desenvolvimento da concertina.
Em 1921, Haeckel em Viena e depois Buschmann na Alemanha inventaram instrumentos
para soprar com a boca com palhetas livres. Buschmann adicionou foles um teclado de
botões no ano seguinte, para poder ser tocado com as mãos, tornando esse instrumento
como o primeiro antepassado reconhecível da concertina. Finalmente, em 1929, Cyrillus
Damian, um construtor de instrumentos radicado em Viena, adicionou acordes no baixo, e
patenteou este instrumento como acordeão (Paralelamente, Sir Charles Wheatstone patenteou
a concertina em 1829 e Heinrich Band em 1940 inventou o Bandonioni).
O Acordeão de Demian chega um ano depois a Paris, onde numerosos construtores o
vão melhorando durante o Séc.XIX, salientando-se várias fases: a substituição de
acordes por sons simples em cada botão; o aparecimento do acordeão misto, em que alguns
botões dispunham de um som a fechar e outro a brir, enquanto que outros botões produziam
um som único; e, o aparecimento do Acordeão de teclado (cópia do teclado de piano).
Gravações
I Encontro Tocadores Tradicionais
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Saias de Campo
Maior
Saias de Campo
Maior
A partir do Acordeão misto derivam duas vertentes: uma que vai dar o Acordeão
de botões com um som por cada botão, e outra, que vai dar origem ao Acordeão Diatónico
composto por uma, duas, ou três carreiras de botões com a emissão de dois sons por
botão, conforme o movimento do fole.
Enquanto que os Acordeões de teclado e de botões dispõem usualmente, na mão
esquerda, de sessenta, noventa, ou cento e vinte botões de baixos, o Acordeão diatónico
dispõe somente de quatro, oito, ou doze, conforme tem na mão direita uma, duas, ou três
carreiras, respectivamente.
Pensa-se que a Acordeão diatónico chegou a Portugal na mesma altura a que
chegou a Espanha (1873) adoptando o nome de Concertina. Em Portugal designa-se
por concertina o que algumas pessoas no nordeste brasileiro chamam "sanfona"
(sem distinguir por vezes a concertina e o acordeão) e que na Irlanda corresponde a um
pequeno instrumento hexagonal, também de palhetas livres.
No sec XIX, a concertina tomou o lugar da harmónica como instrumento favorito.
Era muito popular na Estremadura, onde rivalizava com as Gaitas de foles. Nos dias de hoje
tem especial vitalidade no Minho, onde são tocadas por ocasião dos bailes e nos cantares
ao desafio.
Contexto social e musical
Hoje em dia, a concertina substituiu em toda a faixa litoral os cordofones que antes
dominava a música festiva e lírica de tipo recente: cantares de festa e coreográficos
alegres e vivos, chulas, rusgas, cantigas românticas e satíricas, cantares
de desgarrada, fados, serenatas e tunas; na região raiana Beiroa assim como no Campo
Alentejano, a concertina é usada, tal como no Ocidente, para música lúdica e festiva:
saias, despiques, modas mais alegres e vivas. No
entanto, hoje em dia a concertina sai da esfera estritamente lúdica e aventura-se em
ocasiões sagradas. De resto, com a carência da obrigatoriedade estrita e a progressiva
quebra de força da velha tradição, podemos hoje ver a concertina (que conhece maior
difusão que a viola) em ocasiões cerimoniais onde há pouco não figurava. Por exemplo,
em Creixomil, na região de Barcelos, ouvimos uma primeira parte de uns cantares de reis
onde as vozes cantam a pedir o donativo, de uma forma grave e austera, com a concertina a
sublinhar a linha melódica.
Actualmente, por toda a parte, os cordofones tradicionais vão sendo postos de
parte, aparecendo a par deles, ou em sua substituição, a concertina e o acordeão. Na
faixa litoral do alto Minho, por exemplo, pode-se mesmo dizer que o único instrumento que
hoje se ouve nas rusgas, bailes de terreiro, romarias e outras festas, é a concertina.
Na Serra duriense, nas tocatas que acompanham a dura faina da vindima, está presente a
concertina. Mais tarde, durante o bailarico e festa final da entrega do ramo
aos patrões (fig. 1), esta tocata consegue suscitar a atmosfera lúdica dessa duríssima
quadra.
Especificidades técnicas do instrumento
É um aerofone de palhetas livres que são accionadas por meio de um fole que une os dois
teclados. Trata-se de um aerofone de palhetas livres que são accionadas por meio de um
fole que une os dois teclados. O teclado da mão direita produz as notas, enquanto o
teclado da mão esquerda produz os acordes e baixos de acompanhamento.
É um instrumento largamente difundido na música de raiz tradicional e Popular
Europeia, embora tenha surgido apenas no princípio deste século, depois de construtores
alemães terem transformado os seus primórdios chineses, nomeadamente na utilização de
palhetas metálicas.
Este instrumento tem a particularidade de emitir notas distintas quando se prime
uma tecla e se acciona o fole em cada sentido, o que o distingue do acordeão (que emite
sempre o mesmo som, independentemente do sentido com que se acciona o fole).
São muitos os instrumentos que funcionam a partir de palhetas simples, duplas
ou batentes (saxofone, clarinete, oboé, fagote, órgão, palheta). Ao contrário dos
outros tipos de lamelas vibrantes, a palheta livre move-se livremente no ar graças à sua
elasticidade: ela não vibra contra nenhum suporte.
A palheta livre metálica é o princípio sonoro da concertina (fig. 2). Esta
palheta é uma lamela de cana ou metal, onde uma extremidade está fica e a outra vibra
sob a pressão do ar que circula pela acção do fole. Ela está fixada por uma das suas
extremidades num suporte de madeira (chassis) onde foi perfurada uma abertura: a janela.
No interior desta, sob a pressão do ar que vem do fole, a palheta desloca-se para um e
outro lado do seu eixo, provocando uma vibração que está na origem do som da
concertina. A alimentação do ar é feita alternadamente, de acordo com o movimento de
abertura ou de fecho do fole, que faz com que o ar de um lado ou do outro do suporte de
madeira; como a palheta apenas vibra do lado onde ela está fixa: é por isso que na
concertina sendo estas duas palhetas diferentes, o som emitido a fechar ou abrir o fole é
também ele diferente. A pele de couro evita eventuais vibrações parasitas da lamela que
não está a vibrar. A palheta é afinada com a ajuda duma lima (quando se lima a base, o
som fica mais grabe; quando se lima a extremidade o som fica mais agudo).
Afinação
As primeiras concertinas tinham apenas dez botões do lado direito. A cada botão
correspondem pelo menos duas palhetas (e podem chegar a ser dez) com notas diferentes no
abrir e no fechar do fole. Os baixos e os acordes relevantes são a raiz da escala no
fechar do fole e a quinta do acorde no abrir do fole.
As concertinas podem ter uma fileira de botões, com dez botões. Dada a
característica da concertina, a estes dez botões correspondem 20 notas diferentes, dez
no abrir do fole e dez no fechar do fole. A uma fileira correspondem apenas dois botões
de baixo (lado esquerdo), com dois acordes e dois baixos. Da necessidade de tocar em
diferentes tonalidades (de forma a se poder tocar com outros instrumentos), surge a
concertina com duas fileiras (fig. 3) de botões do lado direito e oito baixos do lado
esquerdo.
A cada fileira corresponde uma tonalidade, podendo a concertina estar em
SolDó, Dó Fá, ou qualquer combinação que o construtor ou o tocador tenham
ensejo de tocar. Com três fileiras o esquema repete-se, podendo a ter concertinas em Sol
Dó Fá, Ré Sol Dó ou qualquer outra afinação. Neste caso,
esta concertina tem normalmente doze baixos. Outras concertinas, como por exemplo a
concertina italiana, tendo por base duas fileiras, têm algumas notas suplementares numa
terceira fileira (cinco ou seis botões) que são as alterações cromáticas, permitindo
ao tocador uma vasta gama de tonalidades e opções interpretativas. Hoje em dia muitos
tocadores pedem afinações muito específicas ao construtor, de forma a que o instrumento
se adapte às suas necessidades e criatividade.
As concertinas mais comuns na música popular portuguesa são normalmente
afinadas em Sól-Dó. Por exemplo, no caso da música cabo-verdiana é mais comum
encontrar concertinas com afinação em Fá-Dó.
Técnica do tocador
O teclado principal, tocado com a mão direita, produz as várias notas (numa escala
diatónica, ou seja, só com os tons principais) enquanto o teclado da mão esquerda
produz os acordes de acompanhamento.
A mão direita: a mão direita toca num teclado de botões, que fazem a melodia.
A mão esquerda toca os baixos e os acordes, podendo também operar o botão do ar. O
pulso esquerdo passa pela correia dos baixos permintindo ao braço esquerdo movimentar os
foles. A concertina é sustentado pelo tocador através de tiras de cabedal, que facilitam
o suporte do instrumento. Na maior parte das vezes o instrumento é tocado sentado.
(Extraído e adaptado do Livro
Instrumentos Musicais Populares Portugueses de Ernesto Veiga de Oliveira e
Benjamim Pereira - Gulbenkian 2000).