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Os
Bailes
Tradicionais |
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O Baile como
Rito de Passagem |
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A
Evolução dos Bailes Populares |
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Os Bailes
Populares da Cidade de Lisboa |
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As Danças |
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Resumo
dos Fonogramas |
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Fonte:
Tradições Musicais da Estremadura
Os conteúdos aqui
apresentados foram retirados do Livro "Tradições
Musicais da Estremadura" de José Alberto Sardinha, uma cortesia do autor e da
Editora Tradisom. |
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Tradições
Musicais da Estremadura: O Amor e o divertimento
Os Bailes Populares na Cidade de Lisboa
José Alberto Sardinha (In "Tradições Musicais da Estremadura")Por estranho que pareça, os bailes do povo de Lisboa não diferiam
muito dos bailes rurais que vimos descrevendo. Na verdade, ainda há quatro ou cinco
decénios, os bairros populares da capital apresentavam muitas semelhanças de vivência
musical com as aldeias donde grande parte dos seus habitantes provinha.
Lisboa era, no que aos bairros populares diz respeito, um conjunto de pequenas
aldeias. Minhotos, beirões, ribatejanos, constituíam, uma vez na cidade, comunidades de
forte e vincada personalidade. Reuniam-se habitualmente aos domingos em certos largos dos
bairros onde predominavam, ou em sociedades de recreio, e em qualquer lado se formava um
baile, animado por tocador ou tocadores de ocasião.
Em Alfama, por exemplo, no princípio deste século, predominavam os oriundos de Ovar (os
ovarinos) e do Ribatejo (os da Borda dÁgua), gente habituada às embarcações
marítimas e que, por isso, assegurava o trabalho das fragatas do Tejo, cujo porto era na
zona fronteira ao típico bairro. Muitos deles acomodavam-se nas «casas da malta».
Conforme os recantos de Alfama e os seus habitantes, naturais desta ou daquela região do
país, assim era o carácter músico-instrumental dos seus bailes dominicais. Predominavam
os cavaquinhos (muito usados também para cantigas ao desafio, nas tabernas) e os
harmónios. Diz-nos Sérgio Ferreira, nado e criado em Alfama, hoje (1993) quase
nonagenário que «naquele tempo [princípio do século], isto era muito divertido; não
era morto como hoje».
Os bailes de rua assumiam particular animação no mês de Junho, na altura dos Santos
Populares. Por estas ocasiões e também noutras festividades ao longo do ano,
organizavam-se bailes por toda a cidade, tanto ao ar livre, como nos salões das
sociedades de recreio. No interior da antiga Praça da Figueira, por exemplo, colhemos
nós notícia de que se realizavam bailes memoráveis durante o mês de Junho, ainda pelos
anos 40, até ao desmantelamento da praça. Limpava-se o recinto, arredavam-se objectos,
mercadorias e utensílios da venda para dar espaço e ornamentava-se a praça com
inúmeros balões iluminados. A função era concorridíssima pelo povo dos mais variados
bairros da cidade e dos arredores. Conforme os dias, a música estava a cargo de um
tocador de concertina, ou, nos bailes mais importantes, de pequenas orquestras populares.
As modas coreográficas que aí mais se tocava e dançava eram as marchas, as valsas, o
tango, o fox-
-trot, corridinhos («muitos!») e o fandango («até havia concursos para eleger o melhor
bailador de fandango!»).
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Cegada lisboeta do século
XIX.
Lit. Palhares. |
Note-se que esta tradição dos bailes populares na Praça da Figueira era já
muito antiga, pois é referida pelo Príncipe Lichnowsky em 1842, aquando da sua visita ao
nosso país: «Ao oriente do Rocio acha-se o mercado denominado praça da Figueira, onde,
na véspera de certos dias de festa, abrem-se os lugares de venda e durante a noite
inteira ao clarão de muitas lanternas e lampiões, e por entre as mercadorias e os
compradores, aparecem bandos grotescamente vestidos e têm lugar danças nacionais».
Saliente-se que, quando o ilustre viajante fala em danças nacionais, ele está
naturalmente a excluir as valsas e outros ritmos europeus então já em voga em Portugal e
que ele decerto conhecia bem, concluindo-se assim que tais danças seriam da tradição
portuguesa, pelo menos na opinião do príncipe. Mesmo que perfunctório fosse o seu
conhecimento das danças portuguesas o que é de admitir , uma coisa não se
negará: que ele conhecia de perfeição as danças europeias de salão. E se tivermos em
conta que grande parte das nossas actuais danças da tradição popular provêm dos ritmos
europeus dos salões oitocentistas, como adiante explicaremos, compreenderemos a
importância da afirmação de Lichnowsky, mesmo sendo certo que não exemplifica nenhuma
das nossas «danças nacionais» de 1842.
Também Alfredo Mesquita nos fala da animação da Praça da Figueira por ocasião dos
Santos Populares ainda no século XIX, em passagem colorida que bem demonstra a
proximidade entre os hábitos e costumes populares da capital e os das aldeias do termo:
«Há um período de festas populares em que o alfacinha não sai de Lisboa, e em que cai
em Lisboa um poder do mundo dos saloios. É no mês de Junho, quando se festeja Santo
António, São João e São Pedro. São verdadeiras romagens das aldeias e casais da
cercania ao coração da cidade, prazo-dado, sem ajuste nem convite, de todos os
guitarreiros e cantadores do termo. As noites da Praça da Figueira e suas imediações
têm nessa ocasião um cunho lisboeta e provinciano que se não confunde, na contagiosa
alegria dos descantes, das guitarras, dos balões de cores, das gaitas e assobios de
barro, dos pregões de frutas, manjericos e cravos, todo aquele ir e vir de grupos que a
folia impele, sem nexo e sem sentido, formigueiro humano, onda de povoléu» (...).
José Alberto Sardinha |