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O Contágio
da Dança |
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Direito ao Enterro |
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A
Voz da Aldeia |
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A Arte das
Máscaras |
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Tradições
Viagem ao velho Entrudo
A Arte das Máscaras
João Garcia (In "Jornal
Expresso" de 21 de Fevereiro de 1998)Caretos
é também a designação dos mascarados de Lazarim. Mas ali, na proximidade de Lamego,
conta mais a máscara, esculpida em amieiro, do que o fato. E, dado inesperado, nenhuma
das práticas do Entrudo está vedada às mulheres... embora tenham o seu risco.
«Uma vez pedi uma máscara, vesti-me, e saí de careto, juntamente com outra
moça. Mas eles lá descobriram, fosse pela forma do corpo, fosse pelo andar, e começaram
a querer pôr as mãos onde não deviam. Tivemos de fugir», recorda Maria de Lurdes, com
49 anos e muita saudade do tempo em que podia fazer versos para o testamento das comadres.
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A principal arma do
Carnaval em Podence chama-se «cacada»
(Foto de: Sérgio Granadeiro) |
Na terça-feira, um rapaz e uma rapariga fazem a leitura dos testamentos dos
compadres e das comadres, versos compostos em segredo e de crítica aos jovens do sexo
oposto. Mandam as regras que só os solteiros possam criticar e só eles sejam alvo de
chacota. Do testamento consta a imaginária distribuição de um burro ou burra, que a
imaginação divide, cabendo a cada um o órgão ou parte que mais se adequa ao
«defeito» que lhe é enunciado. Todas, mesmo todas, as partes do animais são
atribuídas, no meio de quadras que nem sempre dissimulam os palavrões. «As raparigas
são mais finas, sabem dizer as coisas de outra maneira. Agora eles, às vezes, dizem tudo
por claro», conta Ester Ribeiro, de 19 anos, uma das moças que têm ajudado a compor as
estrofes da comadre. Sabe que vai ouvir das boas, mas já está preparada para não ligar.
Sempre as raparigas as compuseram, mas só em 1985 se libertaram do porta-voz que fazia,
por elas, a leitura das «deixadas» do testamento.
Apesar da permissividade própria do Carnaval, que, dizem os antropólogos, serve para
exorcizar e esquecer o passado, nem todos se contentam com um cerrar de dentes. Houve um
ano em que a GNR foi chamada e as ofensas valeram multas de 400 escudos, acrescidos de
cinco tostões de imposto de selo. No ano seguinte, o testamento só teve uma quadra:
«Vamos ler o testamento / para que ninguém se fique a rir / por causa de 400 e coroa /
fica a burra por dividir.»
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As máscaras de Lazarim,
em madeira, são vendidas para os EUA, França e Alemanha
(Foto de: Sérgio Granadeiro) |
As máscaras de Lazarim já andam pelo mundo. José Costa, de 24 anos anos,
carpinteiro, é o mais jovem artífice. Às caraças tradicionais, muitas de fisionomias
com pequenas barbichas, orelhas bicudas ou cornos, está a juntar figuras da banda
desenhada: «O ano passado saiu à rua uma do Alf.» Na primária, os alunos inspiraram-se
no Gil, a mascote da Expo. Mais tradicional, Afonso Costa, de 72 anos, vai esculpindo
animais, guardas, reis e algumas figuras diabólicas. «Já vendi máscaras para museus
dos Estados Unidos, da França e da Alemanha. E há também em Lisboa, no Museu de
Etnologia, e no Grão Vasco, de Viseu.» O Carnaval de 1949 valeu-lhe 16 horas de prisão,
quando o reboliço na aldeia levou à intervenção da Guarda.
Terminam os festejos com os caretos a emitirem uivos, enquanto pequenas explosões
despedaçam os bonecos que representavam a comadre e o compadre. Feitos de arame, papel e
palha, armadilhados com pequenas peças de pirotecnia, presidem ao testamento e são
sacrificados no final. Quem os faz, por 20 contos cada, é Hélio da Costa: «Na Guiné,
em Guilege, em 70, vi morrer um cabo e um furriel. Éramos de minas e armadilhas. No fim
da comissão tinha perdido o medo ao fogo.» Afinal, nem tudo o que é passado se esquece
com o Carnaval. |