Antes disso, a banda reerguida depois de uma profunda remodelação, tinha
conseguido um feito inédito - precisamente para promover este concerto de lançamento -
que foi aparecer durante uma semana em Prime Time na RTP1, nos intervalos do jogos do
Euro, com um anúncio de 20 segundos. Mas o disco acabava por não estar nas lojas a tempo
disso tudo.
As ruínas do convento do Carmo foram o lugar escolhido para o lançamento deste segundo
trabalho, tal como já acontecera com o primeiro CD - só que desta vez o recinto estava
lotado, tal foi o impacto da promoção televisiva e, claro, o nome que a banda vai
construindo junto do público da capital.
Depois de lançado o disco através do Jornal Blitz, rapidamente se percebeu que o grupo
iria lançar uma versão mais completa no final do verão - o que afinal só viria a
acontecer perto do Natal. Para esta edição, apostaram numa capa de madeira, que causa,
naturalmente, um grande impacto - acrescentando mais três temas à edição original.
Não fossem os timmings trocados, diríamos que estávamos perante uma estratégia
certeira para este lançamento.
Desde o concerto do Convento do Carmo e a audição deste segundo CD, deu para perceber
quais foram as coisas que mudaram na banda de Vasco Casais e quais foram aquelas que se
mantiveram. E a conclusão é: muita coisa mudou para um caminho bem diferente.
Os Dazkarieh, com a primeira formação, definiram um estilo que só a eles pertence -
oscilante entre a euforia e a contemplação, revelando um sentindo de busca permantente -
que aqui e ali pontuava o trabalho com alguma "instabilidade" em torno das boas
ideias. Traduzindo: sempre que os Dazkarieh desembocavam num momento musical de encher o
ouvido, lá estavam eles a saltar para a ideia seguinte - algo que nem sempre os
favorecia.
Neste "Espanta Espíritos" esse ponto continua a ser notado, mesmo quando o
grupo apresenta temas parentes dos estilos da chamada "World Music" de
exportação - isto quando passam pela música irlandesa, galega, flamenca, pelos
chorinhos brasileiros ou os frenéticos ambientes dos balcãs. Mais domadas e
imaginativas, as percussões destacam-se desta vez como um dos seus pontos mais fortes.
Eventualmente domar a "instabilidade" do primeiro trabalho dos
Dazkarieh pode vir a ser um caminho mais curto para a sua afirmação. Isso, em vez de
arredondar o estilo Dazkarieh aos formatos import/export.
É nesse sentido que o primeiro disco parece estar mais alinhado com o objectivo
ambicioso de fazer pensar que a "world music" pode passar por sítios
inventados, imaginados e torcidos a bel prazer. O "Espanta Espíritos" pode
provocar, pela sua natureza musical, demasiadas tentações para a comparação com
artistas naturais dos locais (reais, não imaginados) aqui revisitados.
Contudo, pegando na ideia potencial dos Dazkarieh, o "Espanta Espíritos" é sem
dúvida um disco desafiador, mesmo que não despojalo de alguns dos seus pontuais
excessos.