Biografia de
Amália RodriguesAmália da Piedade
Rodrigues nasceu em 1920, em Lisboa, filha de pais naturais da Beira Baixa. A data certa
do nascimento é desconhecida: em documentos oficiais nasceu a 23 de Julho, mas Amália
sempre considerou que nasceu no primeiro dia desse mês. Educada pela avó, cantou pela
primeira vez em público em 1929 numa festa da Escola Primária da Tapada da Ajuda, que
frequentava. Maistarde trabalhou como bordadeira.
Em 1933, empregou-se numa fábrica de bolos e rebuçados em Lisboa e dois anos
mais tarde, com a irmã Celeste, trabalhou numa loja de souvenirs no Cais da Rocha,
acompanhada pela mãe, vendedora de fruta.
Em 1935, desfilou na Marcha de Alcântara e cantou pela primeira vez acompanhada
à guitarra numa festa de beneficência. Estreou-se em 1939 no Retiro da Severa, a casa de
fados mais importante da altura, acompanhada por Armandinho, Jaime Santos, José Marques,
Santos Moreira, Abel Negrão e Alberto Correia, interpretando três fados.
Em 1940 casa com o guitarrista amador Francisco da Cruz. No dia 25 de Junho de
1940 é a atracção convidada da revista do Teatro Maria Vitória, Ora Vai Tu!, a
primeira de muitas revistas em que participou.
A sua estreia no estrangeiro, a 7 de Fevereiro de 1943, ocorreu em Madrid, a convite do
embaixador Pedro Teotónio Pereira. Amália separa-se do primeiro marido.
Em 1944 viajou pela primeira vez para o Brasil, onde actuou no Casino de Copacabana. O
sucesso levou a prolongar a estada de seis semanas para três meses, tendo regressado no
ano seguinte ao País.
Amália Rodrigues gravou os primeiros discos de 78 rotações, a 17 de Outubro
de1945, no Brasil para a etiqueta Continental.
A estreia no cinema ocorreu a 16 de Maio de 1947 com o filme Capas Negras, de
Armando Miranda, que bate todos os recordes de exibição, com 22 semanas consecutivas em
cartaz no cinema Condes, em Lisboa.
Em Fevereiro de 1948 recebeu o Prémio SNI para a melhor actriz de cinema pela sua
interpretação de Fado, de Perdigão Queiroga, estreia no Porto e é anunciado
como sendo inspirado na vida de Amália, o que a fadista sempre negou.
Em Abril de 1949 cantou pela primeira vez em Paris e em Londres, em festas do Departamento
de Turismo organizadas por António Ferro.
Em 1950 continua a sua tournée pela Europa, actuando em Berlim, Dublin e Berna.
Começa a cantar poemas de Pedro Homem de Mello e David Mourão-Ferreira. Em Dublin, canta
Coimbra, que fica no ouvido da cantora francesa Yvette Giraud, que a populariza em
França como Avril Au Portugal.
Em 1951, Estreia de Vendaval Maravilhoso, de Leitão de Barros, um dos filmes preferidos
de Amália entre aqueles em que participou. Gravou pela primeira vez em Portugal, para a
editora Melodia (Rádio Triunfo) a. Numa digressão por África canta em Moçambique,
Angola e Congo Belga.
Em 1952 cantou em Nova Iorque, onde ficou 14 semanas em cartaz, e assinou contrato
discográfico com a casa Valentim de Carvalho, fazendo as primeiras gravações no
estúdios da EMI, em Londres.
Em 1953 Amália torna-se na primeira artista portuguesa a actuar na televisão
americana no famoso programa Coke Time with Eddie Fisher, onde interpreta Coimbra.
É de 1954 também o seu primeiro álbum, Amália Rodrigues Sings Fado From Portugal
And Flamenco From Spain, publicado nos EUA pela Angel Records. Este álbum nunca
foi publicado em Portugal com o mesmo alinhamento.
No ano 1955 participou no filme Os Amantes do Tejo, de Henri Verneuil, onde
interpreta a Canção do Mar e o Barco Negro. Filma no México Musica
de Siempre com Edith Piaf.
No dia 10 de Abril de 1956 estreou-se no famoso Olympia, de Paris, numa das
festas de despedida de Josephine Baker, e em Julho de 1958 foi condecorada por Marcelo
Caetano na Exposição Mundial de Bruxelas.
No dia 4 de Novembro de 1958 estreou-se na televisão portuguesa no papel principal da
peça O Céu da Minha Rua, adaptada de uma peça de Romeu Correia.
Em 1961, confirmam-se os boatos que desde há muito andam no ar. Amália casa-se no Rio de
Janeiro com o engenheiro César Seabra, e anuncia que vai abandonar a carreira artística
passando a viver no Brasil. Um ano depois Amália regressa a Lisboa.
Em 1962 foi editado o álbum Amália Rodrigues, mais conhecido como Busto ou
Asas Fechadas, grande viragem na sua vida artística, onde canta Estranha Forma
de Vida, Povo Que Lavas No Rio, de Pedro Homem de Mello, e, pela primeira vez,
músicas de Alain Oulman.
Em 1963, em Beirute, é tal o seu prestígio, que a convidam a acompanhar com os
seus fados uma Missa de Acção de Graças pela independência do Líbano. E continua
sempre avoltar aos países que não se cansam de a reclamar. Em Paris, o acolhimento do
público é sempre delirante, não só no Olympia, como participando nos mais sensacionais
acontecimentos artísticos.
Em 1964 Amália regressa ao Cinema com Fado Corrido, um Filme de Brum do Canto
baseado num conto de David Mourão Ferreira, onde mais uma vez lhe dão um papel de
fadista. Na estreia do filme em Lisboa confirmou-se mais uma vez que Amália continuava a
ser a artista preferida do público português. Onde quer que aparecesse era sempre uma
sensação.
Em 1965, Amália atinge a sua melhor interpretação no cinema em As Ilhas Encantadas do
estreante Carlos Vilardebó, baseado numa novela de Herman Melville. Neste filme,
diferente de todos os outros da sua carreira, Amália pela primeira vez não canta.
Amália volta a receber o prémio de melhor actriz com As Ilhas Encantadas e no ano
seguinte aparece no filme francês Via Macau.
Em 1966, é editado o primeiro disco em que recria o folclore, a que mais dois se
seguirão. Com uma grande orquestra sinfónica, dirigida por André Kostelanetz, actua no
Lincoln Center, em Nova Iorque, e no Hollywood Bowl, em Los Angeles. Canta em França,
Israel, Brasil, África do Sul, Angola e Moçambique. Amália cantou na inauguração da
Ponte sobre o Tejo, gravou Concerto de Aranjuez, com uma letra em francês, e Vou
Dar De Beber À Dor, de um compositor até então desconhecido, Alberto janes, que se
tornará num dos maiores êxitos de Amália, com mais de 100 mil cópias vendidas.
Em 1967 em Cannes, Anthony Quinn, com enorme entusiasmo, anuncia oficialmente que prepara
dois filmes para Amália, sendo o primeiro Bodas de Sangue de García Lorca. Mas
Amália prefere exprimir-se no canto.
Em 1969 cantou na União Soviética, correndo o mundo que unanimemente lhe reconheceu o
talento.
Em Janeiro de 1970, Amália parte para Roma para actuar no Teatro Sistina em Roma. O
sucesso foi tal que o fenómeno "Amália" se espalha por Itália. Começava
então "La Folia per La Rodrigues". Amália canta pela primeira vez em Tokyo, e
também o Japão, apesar de tão longínquo e com uma cultura tão diferente, se rende ao
fascínio de Amália . Desde então sucedem-se as tournées pelo Japão abrangendo várias
cidades. Todos os seus discos são editados nesse país, que com ela tanto se identifica.
É frequente, quando Amália parte para o Japão todos os seus espectáculos estarem já
esgotados, lançando assim Amália, uma verdadeira ponte cultural entre Portugal e o
Japão.
Este disco conquista para Amália os mais importantes prémios da indústria
discográfica: IX Prémio da Critica Discográfica Italiana (1971), o Grande Prémio da
Cidade de Paris e o Grande Prémio do Disco de Paris (1975).
Em 1972 no Brasil, estreia-se no Canecão do Rio de Janeiro Um Amor de Amália,
onde pela primeira vez, num espectáculo organizado, Amália canta e conta histórias da
sua vida. Tanto é o sucesso que, o show é repetido no ano seguinte. Esse espectáculo,
onde Amália é acompanhada
para além da guitarra e da viola, por uma orquestra e um coro, foi gravado em disco.
No dia 25 de Abril de 1974 dá-se a revolução que derrubou o regime fascista
que há 48 anos governava Portugal. Amália, devido a um contrato que tinha para actuar na
televisão espanhola, partiu para Madrid no dia seguinte. Em Lisboa, a grande popularidade
internacional de Amália fez que de imediato circulassem boatos que a ligavam ao regime
deposto. Embora só ligeiramente prejudicando a sua carreira, estes boatos afectaram
gravemente a sensibilidade de Amália. Apesar destes boatos, Amália aparece logo no
Coliseu onde 5 mil pessoas aplaudem de pé, provando que o seu público nunca a abandonou.
A partir dessa altura, faz as mais longas tournées por Portugal, e o seu sucesso
internacional continuou a aumentar fazendo tournées por todo mundo.
Em 1976 são editados Amália noCanecão, álbum ao vivo que regista
parte do show de Amália naquele palco brasileiro em 1973, e Cantigas da Boa Gente
compilação de material lançado anteriormente em singles e Eps. Também neste ano canta
no Théâtre de Champs Elysées, em Paris. É publicado pela UNESCO o disco Le cadeau
de la vie, onde figura ao lado de Maria Callas, John Lennon, Yehudin Menuhim, Aldo
Ciccolini, Gyorgy Cziffra e Daniel Barenboim.
No ano de 1977 editadas mais duas compilações Fandangueiro e Anda o Sol
na Minha Rua de um novo single de Alberto Janes, Caldeirada, e de
Cantigas numa língua antiga, primeiro álbum de material original de Amália em
três anos, embora de façam parte alguns temas já anteriormente registados pela fadista,
aqui gravados em novas versões. Neste ano volta ao Carnegie Hall de Nova York
Em 1980, Amália edita Gostava de ser quem era, o seu primeiro álbum de material
inédito em três anos, composto por dez fados originais com letras da própria Amália,
escritas em sua casa durante a convalescência de uma doença.Também em 1980 recebeu do
Presidente da Republica acondecoração de grande oficial da ordem do infante D. Henrique.
Logo em seguida é homenageada pela Câmara de Lisboa.
Amália edita, em 1982, com poucos meses de intervalo, O senhor
extra-terrestre, um maxi-single com duas canções de Carlos Paião, e
"Fado", um novo álbum de estúdio composto exclusivamente por novas gravações
de composições de Frederico Valério, muitas delas criadas por Amália. O álbum atinge
o 5º lugar do top de vendas de álbuns compilado pela revista Música & Som.
Em 1983, é editado o álbum Lágrima, composto por 12 originais gravados durante
1982 e 1983, de novo com letras suas. Será o seu último disco de material inédito até
à edição de Obsessão, em 1990.
É editado, em 1984, Amália na Broadway, que reúne oito standards de
musicais americanos gravados por Amália em 1965 nos estúdios de Paço de Arcos com o
maestro inglês Norrie Paramor, mas nunca antes editados em disco. As gravações haviam
sido pensadas para um álbum de standards americanos que nunca veria a luz do dia. O
álbum atinge o 17º lugar do top oficial de vendas de álbuns.
A 19 de Abril de 1985, Amália dá o seu primeiro grande concerto a solo no Coliseu dos
Recreios, em Lisboa. O sucesso do Coliseu repete-se em Paris onde Amália é condecorada
pelo Ministro da Cultura Jack Lang, com o mais alto grau da Ordem das Artes e das Letras.
E de Paris de novo parte para o mundo. Em Julho é editado o duplo álbum O melhor de
Amália Estranha forma de vida, que reúne 24 dos mais populares
e aclamados fados de Amália e atinge o 1º lugar do top de vendas, mantendo-se oito meses
no top e vendendo para cima de 100 mil exemplares. Na sequência do êxito, é editado um
segundo álbum compilação, O melhor de Amália volume II Tudo isto é
Fado, que ultrapassa as 50 mil cópias vendidas e atinge o 2º lugar do top.
Em 1987, é editada a biografia oficial de Amália, Amália Uma
biografia, por Vítor Pavão dos Santos, director do Museu Nacional do Teatro,
jornalista e talvez o maior admirador de Amália em território português. O primeiro CD
de Amália é editado em Portugal: Sucessos, uma compilação concebida
originalmente para o mercado internacional, e que apenas ficará em catálogo até se
iniciar a transferência para CD dos vários álbuns de Amália. É também lançado neste
ano, o triplo-álbum de luxo Coliseu 3 de Abril de 1987, que regista na íntegra o
concerto de Amália no Coliseu de Lisboa naquela data. Obtém o Disco de Ouro e atinge o
13º lugar dos tops.
Em 1989, comemorando os 50 anos de carreira de Amália, a EMI-Valentim de Carvalho
edita Amália 50 anos, uma colecção de oito duplos-álbuns ou CD´s temáticos
agrupando muitas das gravações de Amália para a companhia, entre os quais várias
raridades e gravações inéditas. Em Portugal sobre o patrocínio do Presidente da
Republica Mário Soares, de quem recebe a Ordem Militar de Santiago de Espada, as
comemorações são um verdadeiro acontecimento a nível nacional. Festas,
condecorações, exposições, tudo para Amália não é demais. Estas festividades,
prolongam-se numa grande tournée mundial.-LISBOA, MADRID, PARIS, ROMA, TEL AVIV,
MACAU,TOKIO, RIO DE JANEIRO, NOVA IORQUE. Também nesse ano é recebida pelo Papa, no
Vaticano, em audiência privada.
1990 vê ser editado Obsessão, o primeiro álbum de material original e
inédito de Amália em sete anos, composto por temas gravados durante o interregno.
É editada, em 1991, a cassete de vídeo Amália live in New York City
registo do concerto no Town Hall de Novembro de 1990. Recebe do presidente francês,
Georges Miterrand, a Legião de Honra.
Em 1992 é editado o CD Abbey Road 1952, que reúne a totalidade das primeiras
gravações realizadas por Amália para a Valentim de Carvalho nos estúdios de Abbey Road
em Londres.
Em 1995, é editada pela primeira vez em CD a compilação Estranha forma de
Vida O melhor de Amália, e a RTP transmite, ao longo de uma
semana, a séri documental Amália uma estranha forma de vida, cinco
episódios de uma hora dirigidos por Bruno de Almeida incluindo muitas imagens de arquivo
provenientes dos cinco cantos do mundo e nunca antes exibidas em Portugal. Neste ano é
ainda editado Pela primeira vez Rio de Janeiro, CD que reúne as 16
gravações que Amália realizou no Rio de Janeiro em 1945 para a editora Continental. É
a primeira edição oficial em CD destas gravações, há muitos anos indisponíveis em
Portugal, restauradas digitalmente em Londres, nos estúdios de Abbey Road.
Em 1997 é editado o seu ultimo álbum com gravações inéditas
realizadas entre 1965 e 1975, O Segredo. Também em 1997 o falecimento do marido de
Amália, César Seabra, após 36 anos de casamento. Amália publica um livro de poemas
"Versos" na editora Cotovia. Nova homenagem nacional na Feira Mundial de Lisboa
Expo98.
Amália morre no dia 6/10/1999 em sua casa, na Rua de S. Bento, em Lisboa.