Instituto Camões
Os instrumentos musicais
e as viagens dos portugueses
Por João Pedro Caiado | Fonte: Site do Instituto
CamõesA expansão portuguesa
da época moderna e posteriormente a emigração para o Brasil, para África e para a
Europa nos séculos XIX e XX, levaram os portugueses a contactar com as práticas musicais
de outras culturas.
As primeiras fontes de que dispomos descrições das viagens ao longo da
costa ocidental africana, constituem, segundo Vitorino Magalhães Godinho,
"testemunhos vividos da experiência e memórias pessoais dos feitos, utilizando
também o testemunho oral e por vezes escrito (...) dos indígenas."
Os instrumentos usados pelas populações da costa ocidental africana são
minuciosamente descritos e incluem violas, violetas de duas cordas e atabales, no Senegal,
xilofones e violas no reino do Congo e as famosas orquestras de marimbas em Moçambique.
Para além dos instrumentos, os relatos dão-nos também informações
curiosíssimas sobre as práticas musicais indígenas. No reino do Senegal, "as
mulheres (...) são muito jucundas e alegres; cantam e bailam de bom grado principalmente
as moças; mas não bailam senão à noute à claridade da lua; o seu bailar é muito
diferente do nosso." Estas descrições são particularmente reveladoras do olhar de
quem escreve.
A musicalidade e sentido dramático dos músicos africanos originam o seguinte
comentário, a propósito de uns tocadores de alaúde (relato de Pigafetta de 1591):
"Ainda mais, cousa espantosa, através daquele instrumento exprimem os seus
pensamentos e fazem-se entender tão claramente, que quase tudo o que podemos dizer com
palavras o podem eles declarar com os dedos, tocando o instrumento."
A música africana segue os trilhos do comércio de escravos, e influencia
outros territórios, dando origem a novas formas musicais, tal como a emigração
portuguesa no século passado para o Brasil, e já no século XX para a Europa, recriou
nas suas novas terras, os instrumentos e a música popular do seu país de origem.