Lançamento
Roda Pé
por escarpados caminhos
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. . ."Escarpados
Caminhos" é o nome do segundo disco dos Roda Pé, um colectivo eborense, com
saudáveis influências da cidade e do campo, apresentando um trabalho que vale muito a
pena seguir de perto, em ruptura com a ortodoxia da música de raiz tradicional
portuguesa.
O disco abre com um tema emotivo, "Burgo Velho", da autoria dos Roda
Pé, mas é só a partir da 3ª faixa, "Tralhoada" (termo que designa três
juntas de bois) que começam a surgir as razões mais fortes para emergir a distinção.
Quem ouvir "Tralhoada" deste "Escarpados caminhos" ficará
surpreendido como os ventos da cidade - que sopram fortes na música dos Roda Pé e que
provocam um clivado contraste com as visões ortodoxas da tradição musical portuguesa.
O mesmo fenómeno repete-se ao fechar o disco, precisamente o tema que dá nome
ao álbum "Escarpados Caminhos", também ele de feitio disruptivo com os lugares
comuns da então designada renovação da tradição.
"Tralhoada" e "Escarpados Caminhos" partem de recolhas. O
primeiro é um tema popular de évora, contando com a voz de Alberto Fadista - um homem
que trabalhou no campo, com três juntas de bois, a lavrar a terra. O segundo é uma
composição inspirada numa poesia e numa conversa José Francisco Cardoso, de Santana do
Campo. João Bacelar é o mago que pega nas máquinas e dá substância à invenção
sonora e contemporaniedade.
Ainda antes do disco se revelar totalmente, surgem os temas "Virgem de
Guadalupe" e "Saias de Bencantel", quase fazendo perder o chão. Ambos são
modas populares, em que a "Virgem..." apresenta um som ao estilo "demasiado
popular" enquanto o segundo remete curiosamente para uma sonoridade a fazer lembrar o
nordeste brasileiro, também de índole mais popular. Ambos os temas surgem algo órfãos
daquela personalidade que preenche o resto da obra.
"Terra do Bravo", um instrumental sobre um tema popular dos Açores e
"Janeiras de Évora" - moda popular recolhido em Évora junto da Srª. Helena
Jesus Grilo, são temas com abordagens interessantes. Fazem parte dos argumentos para
vencer o braço de ferro com a suposta ortodoxia dominante da música de raiz tradicional
portuguesa.
"Vai-te embora ò passarinho" é uma canção de berço cantada praticamente a
capella - apenas acompanhada por um pulsar denso e profundo do sampler de João Bacelar -
faz respirar as origens musicais alentejanas, o principal universo musical deste
colectivo.
Também "Alentejo, Alentejo" e mais ainda "Janeiras de
Évora" voltam a colocar o alinhamento deste trabalho no caminho certo. Há, de
facto, um som e um estilo que se pode atribuir aos Roda Pé - que respira uma fusão
geracional de músicos e de estilos musicais.
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