Jorge de Sousa, a tocar Rajão
Ao vivo no Funchal a 20 de Maio de 2001
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"Instrumentais de Outrora", 2002
Alinhamento
1. Toque
das Saloias
2. Retalhos da Tradição
3. Hino do Espírito Santo
4. Teresinha de Jesus
5. Cantiga de Embalar
6. Cantiga dos Reis
7. Morisca do Porto da Cruz
8. Menina que sabe ler
9. Borboleta Branca
10. Mourisca do Velho
11. Cantiga da Mourisca
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Madeira
Encontros da Eira
Instrumentais d'Outrora
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O colectivo madeirense "Encontros da Eira" acreditou no
sucesso e com isso venceu barreiras. Afinal a música tradicional também pode ser uma
revelação nas vendas. Um sucesso com muitas razões - todas relacionadas com a
veracidade da música.
Tudo começou sem data marcada, em 1995. Num dia, nove amigos - todos da vila da
Camacha, na Madeira - juntaram-se e formaram este colectivo, que viria a revolucionar a
projecção das músicas tradicionais daquela região autónoma, para dentro e para fora
das suas fronteiras.
A estreia nos discos aconteceu em 1997, com o trabalho "Encontros da
Eira", que arrancou com edições de 1000 exemplares, que cedo esgotaram. Chegou-se
à quarta edição deste disco, esgotamdo-se uma vez mais em poucos meses. Foi um sucesso
de vendas, que viria a supreender o próprio grupo e a associação cultural que lhe dá
suporte. Afinal, é possível acreditar no sucesso comercial da música das raizes e das
tradições.
Mas de ondem vem este sucesso? Grande parte deve-se ao facto do grupo ter
acreditado que a música tradicional da Madeira, nas suas riquezas e nas suas
especificidades. A música da Madeira ainda é, indiscutivelmente, música da Madeira. O
colectivo "Encontros da Eira" sabem-no e apostam nisso.
Anquintrodia é o álbum que surge numa fase de consolidação, com o grupo mais
preparado para encarar o sucesso e uma permanência de vários meses no Top 10 de vendas
da Ilha da Madeira. Esse disco aposta em temas da Tradição Oral e Instrumental da
Madeira e é acompanhado da edição de um livro, que passa em revista um pouco da
história do grupo - e que também deixa um importante testemunho para aqueles que
pretenderem seguir os passos da música da região: aqui são publicadas as letras e as
partituras dos dois primeiros discos do grupo, incluindo acordes para braguinha, rajão e
viola de arame; ao lado de muitas fotografias, retratando os momentos mais importantes da
vida deste grupo.
Eis então que surge o terceiro disco, "Instrumentais de Outrora", um
trabalho que pretende preencher uma lacuna, no que respeita à música Instrumental de
tradição - neste caso também representando as tradições da Ilha da Madeira.
Nos instrumentos temos, naturalmente, uma especial predominância dos
cordofones, como é o caso da braguinha, rajão e viola de arame; para além do bandolim,
do violino e guitarra acústica. A acompanha-los, temos as flautas transversal e bisel, o
acordeão, a harmónica; os bombos, várias percussões e um baixo eléctrico.
O disco abre com o tema "Toque das Saloias", uma melodia recolhida na
vila da Camacha e que era, nos anos 40, tocada em Gaita de Beiços, enquanto se
acompanhava as Saloias pelas casas dos devotos, enquanto estes recebiam o Espirito Santo.
O tema que se segue, "Retalhos da Tradição", junta duas das três melodias
mais comuns da Região Autónoma da Madeira e que podem ser ouvidas um pouco por toda a
ilha. Estamos naturalmente a falar do Bailinho e da Charamba.
"Hino do Espírito Santo" é também um tema instrumental que servia
para acompanhar os devotos na tradição do Espírito Santo, muito presente na freguesia
da Camacha e S. Vicente - onde as pessoas íam, de casa em casa, receber as oferendas para
a Paróquia. Nessas visitas, ía sempre havendo tempo para a oferta de um copo e um
dentinho (petisco). No terreiro das casas, alí ficava um grupo de músicos, que
normalmente entoava este instrumental.
O tema que se segue, "Teresinha de Jesus", era normalmente ouvido nas
eiras, espaço de trabalho mas que também servia para reuniões ao fim do dia - para
jogos e divertimento. O nome do grupo "Encontros da Eira" é exactamente uma
referência a esta tradição da Madeira, onde estes espaços oscilavam entre o lúdico e
o trabalho. A "cantiga de Embalar", também conhecida Cantiga do Berço, é uma
das mais antigas e mais comum em quase toda a ilha. Diz-se ser derivada dos estilo
das mouriscas.
A tradição do Dia de Reis, na passagem do 5º para o 6º dia de Janeiro, é
ainda hoje muito viva na Madeira, o que aliás testemunha este tema, "Cantiga dos
Reis" - que ainda soa nos dias hoje em toda a Ilha, em quase todos lugares; na
montanha e nas aldeias da Ilha.
As Mouriscas, como é o caso da "Morisca do Porto da Cruz" - recolhida
nos anos 70 no sítio da Referta - são consideradas cantigas fundamentais da tradição
musical da Madeira, muito mais até que temas muito mediatizados - como é o caso do
famoso "Bailinho".
A "Menina que sabe ler" é um dos muitos temas musicais que servia de
suporte aos jogos de roda, também muito frequentes nas eiras - durante as horas de lazer
- depois de um dia de trabalho. O jogo era simples: as crianças faziam uma roda e uma
delas ficava no centro, de olhos fechados. A dada altura, dirige-se à roda, escolhe uma
outra criança qualquer e, se acertar no seu nome, ambas trocam de lugar, senão fica tudo
na mesma... e o jogo continua.
Entretanto, o tema seguinte deste "Instrumentais de Outrora" é a
"Borboleta Branca", uma peça da qual há memória em toda a Ilha e que servia,
fundamentalmente, a mesma função para os muitos jogos e brincadeiras lavadas a cabo nas
eiras e nos adros das igrejas - os pontos de encontro das gentes, depois de um dia de
trabalho.
A "Mourisca do Velho" apresenta-se com um ritmo característico das
contradanças, neste caso trazidas do continente e tornadas muito populares na Ilha da
Madeira - onde sempre se cultivou muito o gosto pela dança.
A fechar este disco, temos a "Cantiga da Mourisca" - tratando-se de
uma das mais populares mouriscas da Madeira, neste caso recolhida na vila da Camacha.
Originalmente estas músicas não eram cantadas e serviam de suporte à dança. Este tema
é um dos primeiros a ser também cantado.
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