At-Tambur.com - Músicas do Mundo

Como anunciar aqui?

Outros Sons

Canais: Principal | At-Tambur | Notícias | Curtas! | Recolhas | Instrumentos | Dança | Outros Sons | Internet | Grupos Musicais | Agenda

Principal > Outros Sons > Portugal > Dossier > Detalhe

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.Debanadeira 2.Levanta-te, o Henriqueta 3.Cantiga da Segada 4.You Calcei Ias Mies Chamancas 5.Amparo de Mãe 6.Com Seu Marido Vivia 7.Morava na Minha Aldeia 8.Cantar dos reis 9.Vestir o Menino 10.ó Infante Suavíssimo 11.Célebre Escultor 12.Nossa Senhora Faz Meia 13.Loas de Santo Antônio 14.Hino do Palaçoulo


. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
SONSdaTERRA
Edições e Produções Musicais, Lda
Rua Miguel Torga, 115 - Quinta das Rosas – Vilar do Paraíso
4405-880 V. N. GAIA

Telefone/Fax:
22 7116048
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Dossier Sons da Terrra
Aqueilha Antiga Alegrie...
Palaçoulo - Miranda do Douro

Mesmo nestes tempos de acentuado modernismo, continua a ser comummente aceite que todos os cidadãos deste mundo em mutação contínua, seja qual fôr a sua nacionalidade, devem sentir-se orgulhosos daquilo que é característico, que é emblemático da sua Pátria, do seu Povo, da sua região, da sua zona, do seu rincão-natal.

No entanto, a vida moderna vem proporcionando, progressivamente, a aceitação dos padrões da vida citadina com plena abrangência até às aldeias mais sertanejas do típico mundo rural português. Fenômeno natural que, todavia, não nos dispensará de conhecer, amar e cultivar algumas expressões mais características do nosso Povo, sobretudo do Povo Rural, já que elas revelam a nossa identidade, radicada nas canções populares, nas danças, nas artes poéticas e em tantas outras de que o Povo é, na verdade, um grande mestre.

Sem qualquer pretensão ou aparato de erudição, cabe-nos a responsabilidade imposta, por grata deferência, de elaborar este pequeno texto de apresentação desta gravação localizada de alguns cantares de uma aldeia mirandesa. Trata-se de PALAÇOULO, antiga Palatiolum romana, a Palaciolo de 1212 e a actual Palaçuolo, em língua mirandesa. Também aqui se regista um legado popular de canções (e não só), como património vivo, de cujo caudal não é possível apresentar aqui gravação completa, mas uma simples ideia basilar para um trabalho mais abrangente.

Algumas destas canções poderão ser consideradas autóctones, com apreciável cunho poético e musical, pensamos que assaz reveladoras da ingenuidade criadora do Povo, capaz de produzir, a seu jeito, obras-primas das artes poéticas e musicais. A originalidade e a abrangência de algumas consideramo-las localizadas exclusivamente nesta pujante localidade mirandesa de Palaçoulo. Outras são tida@ como pertencentes ao património geral do folclore mirandês, algumas, em certa dimensão, pertencerão ao vasto roi das canções nacionais e mais uma ou outra revelam certa influência castelhana. Assim se conclui perante os temas e, porventura, algum aspecto linguística. Porém, a realidade é que a gente do Palaçoulo tudo isto erfilhou, assimilou e assumiu, enri uecendo-o com matizes vocabulares, morfológicos e variantes musicais, como expressão do seu sentimento e da sua sensibilidade nativos. Aliás, é sabido que tanto os textos como as suas expressões musicais, quando apenas transmitidos oralmente, se vão transformando, com uma variação aqui, um acrescento mais ali e, ainda, porventura, um corte mais além.

A realidade é que, em geral, foi este Povo dos campos, das "bacadas", dos "ganados" e de toda esta singular ruralidade mirandesa quem assumiu e conservou as suas canções tradicionais, transmitindo-as de geração em geração, até à actual situação, esta já considerada com sinais de periclitante ou, mesmo, quase no limiar do extinguível.

Há poucas dezenas de anos, este Povo admirável cantava as suas canções ao quentinho do borralho da lareira, durante os longos serões de inverno, nos fiadeiros ou fogueiras, nas segadas, na arada, nas mondas, nas vindimas, nos jogos bailados, nos dias festivos (Natal, Reis, Santo Antônio, São João e outros), nos casamentos e nas romarias. Entre estas, destacamos, em terras mirandesas, os ramos cantados a Nossa Senhora do Naso, geralmente em cumprimento de bem sentidos votos. Grata e saudosa evocação, também, dos nossos briosos contadores do fado de Palaçoulo, à desgarrada e ao desafio, nas famosas rondas, nos paga-vinhos, nas entradas para a mocidade e noutras praxes da tradição.

Os intervenientes em todas estas cantigas populares a elas se davam com espírito e coração limpos. Era tradição, era divertido, era desabafo e alívio das canseiras e provações da vida - impulso incontido de indomável força anímica. Por isso, não se vejam como menos dignas certas facetas crítico-jocosas e, porventura, inocentemente sarcásticas, à semelhança das facécias do seu ainda preferido SERINGADOR T.

Assim ouvíamos cantar, tocar e assobiar, por todo o lado, lugar abaixo, lugar acima, pelo termo, pelos caminhos, pastores e pastoras, "boieiros" e "boeiras", ripadores de folha de olmo e de freixo, a cavalo e a pé, à mistura com o respeitável chiar dos carros que regressavam carregados, também à mistura com cães a ladrar, burros a roznar, éguas a relinchar e toda, toda - muita - passarada a cantar, a chilrear, a gorjear e a piar. Era um mundo rural a fervilhar, de fadas, de sereias a cantar, de trovadores, de líricos, tudo, tudo de alma e vida telúrica sem limite de éden que, na medida do possível, nos propomos simplesmente evocar na presente publicação gráfica e acústica.

Esta mesma realidade já foi sentida pelo autor das presentes linhas, num trecho do seu poema MIRANDAYÊ LA MIE TIÊRRA, escrito em língua mirandesa, trecho esse que a seguir se transcreve:

Datrás (que bíen you me lhembro!),
Drento i fuóra de l lhugar,
Bie-se giênte an qualquer parte
A cantar i a assobiar.

Cansadica, mal dromída
l restro que Dius sabie...
Mas Ia giênte, nas aldés,
Andaba cun alegríe.

Síêmpre habie giênte no termo,
Na segada ou na bendíma
l no acarreio ou na trilha,
Mas hoije quaije dá grima!

l porquei será que agora,
Cun tanta máquina, tanta,
Que fáian tanto serbiço,
Naíde assobia nin canta?

Será ançaíro scobrir
Quei sucediu, quei serie?
Para dar a Ias aldés
Aqueilha antiga alegrie.

La bida de aldé yê linda,
Mas ten que haber cundiçones,
Senan quei benírá a ser
Destas nuôssas pobaçones?

A Associação Cultural de Palaçoulo, que, brevemente, passará a ter a designação, já registada, de CARAMONICO - ASSOCIAÇÃO PARA DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE PALAÇOULO, assumiu a iniciativa da presente gravação de Ias modas ou de Ias cantigas de acá, cujo lançamento solene será integrado nas celebrações do 201 aniversário da sua constituição oficial. Tais celebrações terão início neste preciso dia 29 de Abril, seguidas de uma tarde folclórica (pauliteíros, gaiteiros, bailadores, bailadeiras e outras cousicas), com uma cena a Ia mirandesa e, à noite, um promissor Festival da Canção a que, também à mirandesa, se chama Fiêsta de Ias Cantigas - todas elas nesta mesma língua outrora "envergonhada" e que, agora, nos prezamos em espevitar. Que não s 'a ela, a ora, a envergonhar-se de nós!

Depois, para outras épocas do ano, esta Associação Cultural de Palaçoulo tem mais eventos celebrativos já calendarizados, todos eles aprovados na sua movimentada Assembleia Geral de 22 de Janeiro. Neles prevalecerão as tradições mirandesas, com especial destaque no âmbito musical, coreográfico e, naturalmente, deste precioso falar mirandês.

Oxalá esta briosa Associação, com o seu passado e a sua assinalável abrangència, consiga, assim e por outros meios, reavivar a querença profunda de quantos ainda mantêm acesa a vivência - impossível de contar - de um folclore que é mesmo vida anímica, vida radical. Porém, agora, neste trabalho, os cantares estão na primeira linha das artes e da vivência folclórica. Cada coisa a seu tempo. Esta calhou assim. E pensamos que calhou bem.

E vamos prosseguir, porque temos um monumental acervo de especificidades culturais a preservar, como inextinguível legado para coetâneos e vindouros. José Francisco Fernandes 
Voltar ao Topo

 

Canais: At-Tambur | Notícias | Curtas! | Recolhas | Instrumentos | Dança | Outros Sons | Internet | Grupos Musicais | Agenda

Newsletter | Fórum | Chat | Pesquisas | Contactos | Publicidade | Quem somos

.....................................................