Filândia
Gjallarhorn: Sjorn
A musico-mitologia nórdica"Sjofn" é o segundo disco dos filandeses Gjallarhorn,
surgidos em meados de 90 e que se inspiraram sobretudo na mitologia nórdica - povoada por
duendes, trolls, bruxas, montanhas mágicas, deuses e, neste caso particular, Sjorn: a
deusa das paixões terrenas...
Por
João Maia
Hoje em dia é complicado encontrar, na área da denominada "world
music", um grupo que se limite às tradições do seu país de origem, uma vez que
quase todos os músicos que se dedicam à música tradicional acabam por, invariavelmente,
ir buscar referências a outras culturas. Assim acontece com os Gjallarhorn, porém este
grupo finlandês não se limita a importar influências. Os seus músicos acabam mesmo por
procurar essas influências, quer em viagens quer em trabalho de investigação.
Este quarteto surgiu em meados dos anos 90 e lançou, em 1997, o seu primeiro
trabalho, intitulado "Ranarop - Call of the Sea Witch". Já nessa altura se
notava um grande interesse da banda pelos temas da mitologia nórdica, aliás o próprio
nome do grupo tem a origem no nome de um corno que os deuses usavam para chamar a
atenção dos mortais quando pretendiam comunicar com estes. Esse interesse acaba por se
acentuar no segundo trabalho de estúdio: "Sjofn". Este disco recebeu o nome da
antiga deusa nórdica que, segundo reza a lenda, despertava o amor e a paixão entre os
mortais, mas as referências mitológicas não se ficam por aqui. Todo o disco nos remete
para baladas inspiradas nas lendas da mitologia escandinava, povoadas por duendes, trolls,
bruxas, montanhas mágicas e deuses, fruto do trabalho de investigação levado a cabo
pela vocalista Jenny Wilhelms.
Aliás, nota-se perfeitamente que os quatro elementos do grupo se dividem por
duas áreas: a voz cristalina de Jenny Wilhelms, juntamente com a viola, violino e bandola
de Christopher Ohman providenciam a componente melódica, mas onde os Gjallarhorn se
distanciam dos restantes grupos escandinavos é na parte rítmica, providenciada
brilhantemente pelo enorme conjunto de percussões de David Lillkvist, e pelos didgeridoos
de Tommy Mansika-Aho, músico que viveu durante seis anos na Austrália, onde aprendeu a
tornar-se um verdadeiro mestre daquele instrumento arborígene. Como resultado desta
mistura, temos um disco que é claramente baseado nas tradições escandinavas (para além
dos temas cantados ao longo do disco, Jenny umas vezes canta, outras sussurra, em sueco,
num estilo antigo finlandês, ou até num dialecto islandês há muito esquecido), mas
cujo ritmo tribal lembra claramente locais bem mais quentes como a África, Índia, ou
Austrália.
Este é, portanto, um trabalho bastante consistente onde não faltam belas
baladas tradicionais, nem tampouco as polkas e minuetos tradicionais na cultura nórdica.
O disco é bastante homogéneo, no que respeita à elevada qualidade, porém destacam-se
os temas "Suvetar", que abre o disco, "Djelill och Lagerman", onde se
destaca ritmo marcado pelo estupendo didgeridoo de Tommy Mansika-Aho, o instrumental
"Manuett fran Jeppo-Polska", e o brilhante "Hjadningarima", onde a
excelente voz de Jenny Wilhelms se divide ora por cantos ora por susurros. A finalizar o
disco temos "Sinivatsa", uma incursão por ritmos como o lounge e o chill-out, a
demonstrar como se pode conjugar na perfeição instrumentos tradicionais com ritmos mais
actuais, sem cair em tentações new age.
Este é sem, dúvida um excelente exemplo do que pode ser a música de raiz
tradicional nos dias de hoje. A música dos Gjallarhorn é extremamente contemporânea,
porém não esquece nunca as suas raízes culturais. A par de nomes como Hedningarna,
Vasen, ou Garmarna, esta banda conquistou já um importante lugar de destaque no panorama
da música nórdica. E sendo uma banda jovem, a continuarem por este caminho tornar-se-ão
um caso muito sério na música tradicional europeia.
João Maia