Homenagem
Raul Indipwo
A despedida final do Duo Ouro Negro
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. . . . . Raul Indipwo, músico e
cantor angolano - que foi um dos elementos do grupo Duo Ouro Negro - morreu, no Barreiro,
aos 72 anos de idade, depois de uma longa carreira artística também a solo. Para trás
fica um notável legado musical e nas artes plásticas.
Fonte: Lusa
Raul José Aires Corte Peres Cruz, natural de Angola e há muitos anos
residente em Portugal, encontrava-se internado no Hospital Nossa Senhora do Rosário, no
Barreiro, onde morreu "vítima de doença prolongada", segundo a família. Raul
Indipwo, que também se dedicou à pintura, e Milo MacMahon, também já falecido,
formaram em 1959 o Duo Ouro Negro.
Raul e Milo conheciam-se desde a infância em Benguela e, quando se
reencontraram, já no início da idade adulta, iniciaram um projecto centrado no folclore
angolano de várias etnias e idiomas. O nome Ouro Negro foi escolhido porque, naquela
região do sul de Angola, designava tudo o que fosse excepcional: o petróleo, o café, um
jogador de futebol fora de série ou um bom cantor. Quem os baptizou foi a locutora Maria
Lucília Dias, do então Rádio Clube do Congo Português.
Um espectáculo que deram em Luanda incluía uma cláusula que garantiu uma apresentação
no cinema Roma, em Lisboa. E assim o grupo chega à Metrópole, pela mão do empresário
Ribeiro Braga, onde alcança êxitos não apenas no cinema Roma, como também no Casino
Estoril. Desta breve viagem resulta a gravação de três discos. Após o regresso a
Angola, integram um terceiro elemento, José Alves Monteiro, que, em breve, deixaria o
grupo. A carreira dos Ouro Negro tem, a partir de então, uma expressão internacional. No
espaço de um ano, actuam na Suíça, em França, na Finlândia, na Suécia, na Dinamarca,
em Espanha e Portugal.
Em Lisboa, ao êxito quase instantâneo dos primeiros discos, sucedem-se actuações em
programas televisivos e radiofónicos, a par de inúmeras prestações em casas de
espectáculos. Seguindo a "onda" dos ritmos de dança como o twist, o madison, o
surf e muitos outros, o Duo Ouro Negro lança o kwela, que rapidamente se transformou numa
moda, sendo considerado o ritmo do Verão em 1965.
O kwela mais não era que uma dança ritual da tradição africana, que em dialecto zulu
quer dizer flauta. A nova moda pegou e, para a cena europeia, representava uma novidade
encantadora. Paris rendeu-se ao kwela e a Europa em geral também.
O Duo Ouro Negro conhece em 1966 um dos pontos mais altos da sua ainda recente
carreira, ao actuar no Olympia e no Alhambra, em Paris. No ano seguinte, naquela que pode
ser considerada uma das mais elevadas distinções do grupo, actuam na Sala Garnier da
Ópera de Monte Carlo para os Príncipes do Mónaco, por ocasião das comemorações do IV
Centenário do principado. Ainda nesse mesmo ano, são galardoados em Portugal com o
Troféu da Imprensa.
O Olympia de Paris transforma-se numa sala talismã para o Duo Ouro Negro. Em 1967, a sala
acolhe-os durante três semanas em Maio e outras três em Outubro. Repartem estas
actuações com espectáculos em diversas televisões europeias.
O Brasil é outro dos palcos da actuação dos dois angolanos nesse mesmo ano de
1967, com recitais no teatro Cecília Meireles e no Canecão. Posteriormente, actuaram no
espectáculo de comemoração do 20/o aniversário da UNICEF, transmitido de Paris para
mais de 200 milhões de telespectadores. Raul e Milo conhecem a partir de 1968 uma segunda
fase da sua carreira.
Ao conquistarem o Canadá e, depois, os Estados Unidos, internacionalizam as
suas músicas a uma escala mais larga. Em Chicago assinam um contrato com a Columbia
Artists Management e, depois de um breve regresso a Portugal e a África, brilham no
Waldorf Astoria, em Nova Iorque. Também a América Latina foi palco de dois espectáculos
do Duo Ouro Negro, no teatro Maipu, de Buenos Aires, a par de quatro espectáculos
televisivos e do lançamento do LP Ouro Negro Latino.
O cosmopolitismo do grupo não pára e uma longa digressão ao Japão consolida o seu
prestígio em terras do Oriente. Nos anos 70, com o espectáculo Blackground, o Duo Ouro
Negro faz êxito em Lisboa e mais tarde na Alemanha. Têm, então, a intenção de
abandonar as canções mais ligeiras, como "Maria Rita", para se dedicarem ao
folclore angolano como eixo da sua carreira. Depois de 1974, o grupo faz novas actuações
nos Estados Unidos, Austrália e França. No final da década de 70 chega um tempo de
maior calma para a música do duo, que ainda volta a cintilar alto em Portugal com
Império de Lemanjá.
Com a morte de Milo, no final dos anos 80, termina a carreira do Duo Ouro Negro.
Alguns dos principais êxitos do Duo Ouro Negro foram: "Kuríkutéla",
"Muiowa", "Muxima", "Sylvie", "Maria Rita",
"Blackground", "Império de Lemanjá", "Amanhã", "Vou
Levar-te Comigo".