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Digressão
A Naifa
3 Minutos antes de a Maré Encher
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Março 2006 Dia 2 Lisboa, Teatro da Trindade | Dia 17 Viseu Aula Magna do Instituto
Superior Politécnico | Dia 18 Coimbra Museu dos Transportes Teatrão | Dia 23 Aveiro Grande
Auditório da Universidade | Dia 24 Moita Fórum Cultural José Figueiredo | Dia 25 Évora Teatro
Municipal Garcia de Resende | Dia 30 Leiria Teatro Miguel Franco | Dia 31 Santarém Teatro Sá da
Bandeira Abril 2006 Dia 01 Torres Vedras Teatro Cine | Dia 06 Guarda Teatro Municipal | Dia
07 Tondela Associação Cultural ACERT | Dia 08 Alcobaça Cineteatro | Dia 13 Setúbal Forum
Luísa Todi | Dia 14 Sines Auditório Municipal | Dia 15 Loulé Cine Teatro Louletano |
Dia 20 Beja Teatro Municipal Pax Julia | Dia 21 Braga Auditório do
Conservatório Gulbenkian | Dia 28 Viana do
Castelo Teatro Municipal Sá de Miranda | Dia
30 Horta Cine Teatro Faialense Maio
2006 Dia 04 Porto Rivoli Teatro Municipal
| Dia 13 Lisboa Forum Lisboa
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Naifa estreia ao vivo, no dia 2 de Março, o
seu novo álbum "3 minutos antes de a maré encher". O Espectáculo é no Teatro
da Trindade e apresenta o próximo capítulo da música portuguesa do futuro. Depois
disso, o grupo prossegue em digressão pelo resto do país.
Texto de Pedro Gonçalves, publicado no
Site oficila de A Naifa
Nos 33 roufenhos segundos com que A Naifa inicia a sua segunda jornada por
essa encantada visão daquilo que é a música portuguesa, aquela distância
quente remete quem a ouve para um imaginário próximo da Tasca do Chico, ali no Bairro
Alto, em Lisboa, catedral do fado vadio. A Naifa, como já havia mostrado em Canções
Subterrâneas, a estreia em 2004, está sempre no fio da navalha, nesse jogo perigoso dos
antagonismos estéticos e emocionais que oferece a quem a ela se dedica com ouvidos
atentos. O que se segue a Um, precisamente o nome desses 33 segundos, tem
muito pouco que ver com o fado vadio, nada que ver com a Tasca do Chico e menos ainda com
aquilo que nasceu e se foi esboroando com o nome de novo fado.
3 Minutos Antes de a Maré Encher, nome resgatado ao título de um livro de poemas de
Valter Hugo Mãe, carregaria sempre, quisesse ou não, o peso que a História consagrou à
consecução de um segundo álbum, sobretudo quando o que lhe antecedeu reúne
características como a inovação (quando não usada como adjectivo estéril) ou a
suprema beleza com que raras vezes órbitas distintas se cruzam. A Naifa, esperasse-se ou
não, pouco ou nada se deixou embeber no deslumbramento de uma primeira aclamação. 3
Minutos Antes de a Maré Encher será, com certeza, um disco de canções, porque é de
canções que se faz esta música sem rótulo. Mas A Naifa de hoje não está mais afiada
(porque não necessita disso) do que estava há dois anos, e é precisamente aí que está
a génese dessa avassaladora refrega com que o quarteto, agora com Paulo Martins (dos
Ramp, um dos melhores bateristas portugueses e oficialmente um dos mais versáteis) aborda
quem a desafia. A Naifa de hoje está, sobretudo, segura daquilo que tem capacidade de
trinchar, do anafado excesso de orgulho nacionalista ao grotesco conceito de que a
emoção se transmite única e exclusivamente através do que é genuinamente tradicional.
No dia em que A Naifa se transformar em tradição, não é esta que deixa de ser o que
era, é a própria criação que deixa de fazer sentido.
São as audições sucessivas de 3 Minutos Antes de a Maré Encher que compõem a
percepção de que, se a música popular é conceito e é contexto, nA Naifa não
há um só contexto para o mesmo conceito. É através desse processo de escavação
dedicada que se apreende que A Naifa está hoje diferente daquilo que era há dois anos
mas que, na sua essência, mantém como princípio primeiro a audácia de não ceder ao
progresso porque sim. O progresso, nA Naifa, faz-se neste disco através do primado
da libertação. A libertação da obrigatoriedade do formato-canção evidente
quando o mesmo tema é cortado por silêncios calculados , a libertação face à
necessidade de fazer-se ouvir, sabendo ela que vai ser ouvida tal como está. E está
repito, muito mais segura, pronta para arriscar um bom pedaço mais quando a esparsa
electrónica é chamada para o processo, pronta para declamar mesmo quando a voz de Maria
Antónia Mendes se agiganta quando canta, pronta para dar à guitarra portuguesa uma
liquidez que, ao invés de ferir, acaricia as feridas feitas pela vida e por tanta outra
música. Haverá quem em tudo isto possa ver contenção, mas a realidade passa muito mais
pela urgência de experimentar mudar a decoração daquela casa portuguesa que
figurativamente amamos habitar. Nunca possuir, porque A Naifa não se deixa possuir.
Talvez alugar, mas nunca possuir.
A Naifa de 3 Minutos Antes de a Maré Encher é um disco cuja solução se encontra em
quem o escuta e o lê. Inclui, no livrete que acompanha o disco, três poemas que não
estão no alinhamento musicado, mas que se assumem como estímulos adicionais ao resultado
final. Esse é novamente feito por gente deste tempo Nuno Moura, João Miguel
Queirós, Nuno Marques, Rui Lage, José Luís Peixoto, Tiago Gomes, Pedro Sena-Lino, Ana
Paula Inácio e Adília Lopes. E onde dantes havia Amadeo de Souza-Cardoso, hoje há Sara
Santos.
3 Minutos Antes de a Maré Encher, como a própria maré-cheia, deslumbra quando nos deixa
flutuar em direcções variáveis: Disse-lhe que Portugal ainda tinha muitos
comunistas/ Mas o que ele queria saber era onde havia señoritas
(Señoritas); E esqueces essa canção que já não passa na rádio/ Mas
que vive secretamente dentro de ti. (Monotone); Não irei negar
nunca que te amo. Nem mesmo quando estiver deitado, nu, sobre os lençóis de outra e ela
me obrigar a dizer que a amo antes de a foder (Todo o Amor do Mundo Não Foi
Suficiente); Quando passo de automóvel/ Esqueço-me de onde moro/ porque sou
meu lar imóvel (Antena); Sinto-me bem e deus queira que consiga
não me masturbar. Ámen (Fé); Disse espero que encontres um
homem que te ame, e ambos baixámos o olhar por sabermos que esse homem não existe
(Quando os Nossos Corpos se Separaram); Porque me traíste tanto se os
meus gatos são meigos? (Porque Me Traíste Tanto?)
É uma maré que pode levar três séculos a encher. Mas enche e enche-nos. Pedro Gonçalves
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