Odivelas
Joana Melo
Mar Confidente, diz-me com quem andas
Odivelas, Malaposta, dias 14 e 15 de Maio de 2004,
21:30h
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. . Joana Melo, finalista da 1ª
Operação Triunfo, gravou "Mar Confidente" rodeada da colaboração de várias
personalidades artísticas portuguesas - a diferença que lhe permitiu trilhar um caminho
alternativo, diferente de todos os outros projectos a régua e esquadro.
Joana Melo foi uma das finalistas da primeira Operação Triunfo, o programa que
a RTP importou da vizinha Espanha e que foi responsável por devolver esperança ao papel
que o audiovisual pode ter, tanto de lúdico quanto de educativo.
Apesar dessa posição reconhecidamente inovadora, pairou sempre a dúvida sobre
que futuro artístico estaria reservado a todos os novos talentos, produzidos no meio de
um verdadeiro reboliço mediático. A verdade é que essa dúvida rapidamente se tornou -
quase sempre - na pior das certezas.
Ao contrário do fenómeno no país vizinho - em que os finalistas do programa
viam asseguradas vendas na ordem de algumas dezenas de milhar - em Portugal os hábitos
são outros: sobretudo os de não passar música portuguesa nos media. Algo que,
aparentemente, deu uma mãozinha na queda de tantos sonhos prometidos.
O pós anonimato instalou-se e muitos dos trabalhos discográficos ficaram
aquém das piores expectativas de vendas. Um facto, aliás, com a "ajuda"
preciosa da própria estação pública - que muito raramente deu tempo de antena aos
"pupilos" a quem alimentou esperanças ao longo dos quatro meses do programa.
Só que, mesmo com toda a exposição mediática, diz-nos a experiência que
isso quase nunca chega para fazer um sucesso em Portugal, ou pelo menos um produto
artisticamente vencedor. Mas quanto a isso, ficamos à espera para ver o que acontece ao
Nuno Norte - o vencedor do Ídolos da SIC - um programa clone americano, que passou de
arma de destruição maciça, para o mais maçudo e absurdo elogio promocional.
Falemos então de Joana Melo. Na sua aposta, Joana Melo preferiu escolher um
caminho diferente da maioria dos concorrentes da Operação Triunfo. Em vez de tentar a
sua sorte na Pop de imitação ou no rock de outra geração, encontrou nas raízes da
música tradicional portuguesa um trilho alternativo. Preferiu isso em vez de seguir os
conselhos da Catarina Furtado, que poderia convertê-la na n-ésima fadista portuguesa a
tentar a sorte na Holanda e Japão. Não o fez, e ainda bem.
Susana Félix e Nuno Faria compreenderam esta opção e materializaram-na,
rodeando Joana Melo de alguns nomes fundamentais para construir o tal produto artístico,
artisticamente válido. "Mar Confidente" é um resultado artístico (por acaso
inspirado na música de raiz tradicional portuguesa, não teria de ser...) e que excedeu
todas as expectativas do público e dos media. Até à data atingiu vendas superiores a
10.000 unidades, quase o mesmo que o Luis Represas, com aquele que é, talvez, o mais
"trovante" disco da sua carreira a solo.
"Mar Confidente" reúne um elenco recheado de autores, que foram
convidados expressamente a compor para a Joana Melo: é o caso de Paulo de Carvalho, João
Afonso, Pedro dOrey e o grupo algarvio Marenostrum, cujos músicos tocaram em
vários temas do disco, para além de acompanharem a cantora nos espectáculos.
Vários instrumentistas foram também convidados a participar neste trabalho. É
o caso de Carlos Bica (contrabaixo), Pedro Jóia (viola e alaúde árabe), Ricardo Dias
(gaitas de foles), Ernesto Leite (piano), os Toca a Rufar (tambores tradicionais
portugueses), os elementos dos Marenostrum (acordeon, percussão, baixo fretless,
guitarras, bandolim e percussão); bem como o Coro do Mosteiro de Sandim, as Irmãs Romero
e Mami (palmas) e ainda Paulo Parreira (guitarra portuguesa) e Carlos Garcia (viola de
fado).
O disco conta com vários temas originais: "O mar é Grande" (João
Afonso), "Toca a Roda" (Marenostrum), "Rifoneiro" (Pedro dOrey)
e o "Fado Dançado" (Paulo de Carvalho) e numa vertente mais popular
"Vóvó Lucinda" (Nuno Faria / Ernesto Leite, "Vem (Saber)" (Alexandre
Honrado / José da Ponte) e "Asas Nesta Voz" (Alexandre Honrado / Renato Júnior
e Susana Félix).
O fadista Pedro Moutinho sugeriu que Joana cantasse o tradicional Fado Zeca,
composto há mais de trinta anos por Amadeu Ramin, que conta com uma letra de rara
sensibilidade da jovem fadista Elsa Labureiro, que dá nome ao álbum e à própria
digressão. "Cravos de Papel" (António de Sousa / Alain Oulman) é outra
passagem pelo fado, recuperando um tema de Amália, incluído no álbum "Com Que
Voz".
"Diz-me com quem andas..." aplica-se como uma luva a este projecto de
alma solista - que soube, afinal, encontrar o verdadeiro equilíbrio entre a força e o
talento mediático com o verdadeiro sabor da música portuguesa - aquela que é feita por
músicos (portugueses). Joana incluída.