Trofa
Cantares ao desafio
Músicos, improvisos e muito riso
Monte de Stª Eufémia,
Trofa, dia 31 de Maio de 2003
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. . . . . . .Na Trofa
há festa rija no dia 31 de Maio, com a realização do IV Festival de Concertinas e
Cantares ao Desafio - um evento que reune músicos, improvisos e muitos risos, para uma
tarde de festa; a cantar ao desafio.
No próximo dia 31 de Maio, a Trofa vai transformar-se na capital
dos "cantares ao desafio". A Câmara Municipal da Trofa é a anfitriã do 4.º
Festival de Concertinas e Cantares ao Desafio do concelho. Esta iniciativa vai juntar
cantadores e tocadores, perspectivando-se uma autêntica festa tradicional. O festival
acontece no Monte de Santa Eufémia, junto à capela de Santa Eufémia, na Freguesia de
Alvarelhos.
Os participantes vão concentrar-se no Monte de Santa Eufémia a
partir das 15h00, para depois dar lugar ao espectáculo ao ar livre, juntando os curiosos
e amantes das desgarradas. Às 18h30 realiza-se a eucaristia, na Capela de Santa Eufémia,
com a participação do Grupo Coral de Alvarelhos.
No final do espectáculo, as centenas de cantadores e tocadores
presentes no festival continuarão o convívio durante um jantar, onde não faltarão
também os acordes de concertina e as rimas "picantes". Mais tarde, a música
regressa aos palcos e há festa prometida durante o serão.
O que é a desgarrada?
Se falarmos com qualquer alto-minhoto, e lhe perguntarmos que é uma
"desgarrada", logo a seguir dizem: então a senhora não sabe? é o cantar ao
desafio. Mas, o facto de cantar ao desafio não é privativo de alto-minhotos, nem sequer
de minhotos, dado que existe em outras regiões de Portugal, como também não é
privativo de portugueses, já que existe, com outras denominações, é claro, em diversas
regiões pelo mundo fora.
Desgarrada, tal e como reza o dicionário, é aquela canção
popular que se caracteriza por ser entoada alternadamente por duas ou mais pessoas, ao
desafio, sendo a letra geralmente improvisada.
Canta-se pois ao desafio em Portugal, e não só. Na Galiza este
género é denominado "regueifa", e era cantado antigamente nos casamentos. Em
verdade, a regueifa era o bolo de casamento que os noivos ofereciam a quem, de entre os
moços, for o melhor cantador a desafiar aos outros, sempre improvisando, a reclamar a
regueifa. Por extensão é que o cantar ao desafio na Galiza é chamado regueifa, e os
seus cantadores regueifeiros.
Hoje em dia ficam alguns (poucos) regueifeiros velhos na zona de
Bergantiños -infelizmente acaba de falecer o "Calviño"-. Mas desde a
Associação ORAL estão a tentar revitalizar esta tradição, organizando work-shops e
encontros, e estão a consolidar-se cantadores novos como Luís "O Caruncho" ou
"Pinto de Herbón", que estão a puxar da regueifa com muita força.
Se formos para a América do sul, temos, quer no Brasil, quer na
Colómbia, os "repentistas". Os repentistas são as pessoas que cantam aquilo
que sai num "repente", isto é, num impulso, sem pensar. Assim tão lindamente
é definido o improviso por aquelas bandas onde, ainda hoje, é uma tradição em toda a
sua vigência.
Em Portugal não é só no Minho que se canta ao desafio. "...
por vezes chegava lá à festa uma daquelas pessoas que tinha jeito para cantar ao
desafio. Na altura encontrava-se com outra pessoa das mesmas características ... e
vê-lá, que da alegria do encontro começavam a sair quadras, era uma maneira da saudar,
de começar o encontro na festa.." Eis o que nos contavam em S. Pedro do Sul, na
Beira Alta, a Rosa Branca e o Zé Fernando, elementos do grupo Alafum.
Os beirões chamam a este género "fado beirão" ou
"fado à desgarrada", mas normalmente abreviam para fado. E, tal como os
minhotos, apreciam o segundo sentido no fado. Mas reconhecem que, para a desgarrada não
há como os minhotos, com a sua alegria e a sua facilidade para a piada.
Na zona de Lisboa também há desgarrada, mas em forma de fado,
fado castiço. Também é divertido mas não é tanto no improviso.
No Alentejo canta-se ao desafio em duas formas diferentes: ao
baldão e ao despique. No cantar ao despique parte-se de um "mote" e daí se
pega num tema que se desenvolve. O cantar ao baldão já o próprio nome diz: à balda,
isto é canta-se, vai-se respondendo e vai-se improvisando. Na Madeira chamam-lhe também
despique e é muito parecido com o minhoto. Nos Açores há também uma forma de cantar
que é "As Velhas", que se adapta a um improviso.
Fonte: http://www.edu.xunta.es