Sines
Festival Músicas do Mundo de Sines
Biografias dos Grupos Participantes
Sines, Castelo, de 25 a 27 de Julho de 2002, 21:00h
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. . . . . .Apresentamos
aqui as biografias dos grupos participantes na terceira edição do Festival de Músicas
do Mundo de Sines. Esta informação, aqui publicada, consta no excelente site que serve
de promoção deste festival e, seguramente, não dispensa uma consulta ao sítio oficial
do festival, em www.fmm.com.pt.
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Cristina Branco Portugal
A fadista que a Holanda amou
primeiro
Uma voz
excepcionalmente transparente, um repertório que junta os clássicos a experiências
audaciosas (como fazer um disco inteiro com poemas holandeses), uma figura elegante como o
fado não tem mais nenhuma. Cristina Branco é uma das mais interessantes fadistas da nova
geração. A universalidade do fado já não se manifesta apenas pelo efeito de
sensibilizar gente de todo o mundo. Manifesta-se também pela possibilidade de, não se
sendo emigrante, iniciar uma carreira de fadista fora de Portugal.
Apesar de sempre ter
residido em Almeirim, no Ribatejo, Cristina Branco, 29 anos, começou a cantar
profissionalmente na Holanda. Em 1997, uma breve passagem por um programa televisivo em
Portugal conduziu a um convite para actuar naquele país. Desse primeiro espectáculo
haveria de resultar Cristina Branco in Holland, disco de estreia e sucesso imediato.
Hoje, cinco discos,
centenas de concertos e vários prémios depois, Cristina Branco é reconhecida no mundo e
em Portugal como uma das mais estimulantes fadistas da nova geração.
"A mais pura
herdeira de Amália Rodrigues", escreve o LE MONDE DE LA MUSIQUE, publicação
referência na área das músicas do mundo, que atribuiu o prestigiado prémio "Choc
de lAnnée" aos seus discos Murmúrios (1997) e Post Scriptum (1998).
Transparência
Aos 18 anos, o fado ainda era um mundo estranho para Cristina Branco. Pensava seguir a
carreira de jornalista e os seus gostos musicais situavam-se no jazz, no blues, na bossa
nova. Até que o seu avô lhe ofereceu um disco de Amália.
"Antes de ouvir
esse disco (Rara e Inédita), tinha uma visão muito conformista do fado e não apreciava
particularmente o seu aspecto arcaico. Amália fez-me descobrir a beleza e o poder deste
canto."
O fado de Cristina
Branco tem raízes fortes na tradição, mas o estilo e o repertório que tem construído
com Custódio Castelo (guitarrista, compositor, arranjador e... marido) são expressão de
um desejo de inovar.
É Cristina quem se
aventura a trazer para o fado a poesia de Jan Jacob Slauerhoff, autor holandês do início
do século XX, e obtém um disco de platina. É Cristina quem canta "Acontece",
da brasileira Adriana Calcanhotto, e resulta indiscutivelmente fado. É Cristina quem
canta uma versão de "Barco Negro" onde é possível não lembrar Amália a cada
cinco segundos.
Mas o que mais
impressiona no primeiro contacto com o trabalho da fadista é a transparência da sua voz,
a extrema precisão da sua técnica - "Fui uma boa nadadora. Isso ajudou-me",
diz com humor.
Em palco, uma forma de
vestir simples mas sofisticada, a própria beleza física e uma timidez muito charmosa
contribuem para realçar as qualidades puramente musicais desta cantora surpreendente.
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Hedningarna Suécia
Modernos Primitivos
Se há grupo que
mudou a direcção e o impacto da música escandinava, esse grupo é os Hedningarna. Mais
uma vez em Portugal, prometem um concerto com o que é seu e que não é mistério: folk
aberto e toda a energia que pode haver em ritmos nascidos no princípio dos tempos. Se o
rock for entendido sobretudo como espírito (de liberdade, de energia, de êxtase
"tribal"), então já havia rock na Suécia do século XVIII, quando o povo se
juntava nas aldeias para a polska, uma dança frenética que desenhava a violinos
verdadeiras "raves" campestres.
Mas estes rituais dionisíacos de uma Escandinávia rural e ainda semi-pagã não
resistiram à industrialização e à normalização cristã. Os violinos, vistos como
instrumentos do Diabo, foram queimados. E a música foi-se tornando progressivamente mais
bem comportada.
No final do século XX,
o folk sueco recuperou o poder primitivo da velha música. Anders Norudde, Hallbus Totte
Mattsson e Björn Tollin, fundaram os Hedningarna ("Os Pagãos") em 1987 e a
polska voltou a ser tocada, desta vez em palcos de todo o mundo e com a ajuda da
tecnologia moderna.
Sintetizadores e
samplers juntaram-se a poderosos violinos, gaitas-de-foles, vozes e alguns instrumentos
criados de raiz para construir o extático Folk Under Paverkan, ou "folk sob
influência", que fez dos Hedningarna um dos grupos com mais sucesso da world music
nos anos noventa.
Um folk que entra pelos
domínios do rock, do metal, do techno, do trance, do gótico. Um folk que voa e faz voar,
mas nunca arranca as raízes da tradição.
Vikings no Castelo
O primeiro disco dos Hedningarna,
editado em 1989 com o nome da banda, ainda é puramente instrumental: Anders, Totte e
Björn, em "jam", procuram definir o som da banda.
O som da banda é
encontrado três anos depois. Kaksi! (1992), torna-se não só o mais aclamado disco da
carreira do grupo como é considerado um "ponto de viragem na cena folk
escandinava" (Q MAGAZINE).
Grande parte da força
de Kaksi está na colaboração das vocalistas finlandesas (Sanna Kurki-Suonio e Tellu
Virkkala) que dão à música dos suecos o que ela, mesmo em termos de tradição, não
possuía: o encantamento da polifonia.
Em Trä (1994), um
disco muito bem sucedido comercialmente, as influências da música moderna são mais
marcadas. Um caminho seguido em Hippjokk (1997), em que a "procura da alma da
polska" entra pelos atalhos da música electrónica de dança.
O disco mais recente do
grupo, Karelia Visa (1999), é o mais próximo da tradição viva. O grupo deslocou-se à
Carélia, região finlandesa anexada pela União Soviética na II Guerra Mundial, e
embrenhou-se no seu modo de vida e no seu cancioneiro.
A combinação entre
poesia finlandesa, instrumentação sueca e sopro da modernidade produziu o melhor dos 15
anos de carreira do grupo. E Karelia Visa é Hedningarna no seu melhor, com o contributo
das "primas finlandesas", que regressam depois da ausência em Hippjokk.
A Sines, os Hedningarna
vêm sem Björn Tollin (substituído por Christian Svensson), mas compensam com o regresso
da magnífica cantora Tellu Virkkala, que faz par nas vozes com Liisa Matveinen.
Conhecidos pelas suas
envolventes actuações ao vivo (volume alto, atitude descontraída, muito suor), os
vikings vão tomar o Castelo na noite de dia 25 de Julho.
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David Murray Big Band EUA/Cuba
Paragem em Cuba
O
"globetrotter" do jazz volta a Sines, depois de no ano passado ter vindo
homenagear o contrabaixista sul-africano Johnny MBizo. No invulgarmente produtivo
percurso deste artista, 2002 é o ano de Cuba, um dos países com tradição
"autóctone" de jazz mais forte. "Numa altura em que o mundo do jazz parece
ser varrido por uma onda de neo-conservadorismo e afunilamento de horizontes, David Murray
é uma excepção admirável. Mesmo mantendo um grande respeito pelas tradições do jazz,
Murray recusa-se a estagnar. Ele é hoje um dos mais progressivos improvisadores do mundo,
sempre aberto a novas experiências, sempre procurando novos contextos de
colaboração."
Este extracto da
justificação do prémio Ralph J. Gleason atribuído pela Rex Foundation a David Murray
em 1994 aplica-se bem à orientação do trabalho do artista nos últimos anos: levar o
jazz a conhecer a suas raízes e os seus desenvolvimentos em África e na diáspora
africana.
Cuba segue-se a
Guadalupe, África do Sul e Senegal como ponto de encontro para mais uma jam promovida por
Murray entre músicas que, de uma forma mais ou menos próxima, sempre se conheceram.
De Oakland a Cuba
Aos 45 anos, Murray (saxofonista tenor, clarinetista baixo, compositor e produtor) tem
mais de 220 álbuns editados. A história daquele que talvez seja o mais prolífico
jazzman da actualidade começa em Oakland. Filho de metodistas, cresce a ouvir gospel,
rhythm n blues, funk, e, claro, jazz.
Inicia-se a tocar saxofone na escola, em Berkeley, trocando o alto pelo tenor quando ouve
o sopro de Sonny Rollins. Aos 20 anos vai para Nova Iorque, que em meados da década de 70
vivia sob a febre do free jazz. Albert Ayler, com as suas polifonias, timbres distorcidos,
extremos de volume, torna-se o modelo do seu estilo, que ainda hoje se mantém, apesar de
talvez um pouco mais arredondado e "classicizado".
Em 1976, funda o World
Saxophone Quartet, com Julius Hemphill, Oliver Lake e Hamiet Bluiett e, ao longo da
década de 80, cria a sua big band e outras formações de menor dimensão, que o ajudam a
desenvolver o seu crescente interesse pela composição e a encher um transbordante cabaz
de gravações.
Mas recentemente, à procura das raizes, trouxe a world para a sua música. Em 2001 esteve
em Sines com músicos sul-africanos numa homenagem ao contrabaixista Johnny MBizo.
Este ano vem a Sines com mais de uma dezena de músicos cubanos apresentar o repertório
composto para Now is Another Time, gravado na ilha e editado em Junho deste ano.
O disco, que entra em
digressão como projecto Havana Moods, mistura mambos, boleros e tudo o que pulsa no
universo dos ritmos cubanos com o swing de Murray. Jazz latino, para não deixar a neblina
subir na baía.
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Los de Abajo México
"Música de
intervenção" para dançar
Muita da mais
interessante música moderna da actualidade canta-se em espanhol. A música de Los Abajo
é uma mistura de referências "universais" com os melhores ritmos mexicanos e
com letras que, apesar de humoradas, nunca são fúteis. Ao contrário de muita da jovem
música urbana editada nos EUA ou na Europa, o tom predominante nestes mexicanos não é
do sarcasmo desencantado. A vida de los de abajo (os oprimidos) do seu país não lhes
tira o humor (o tom das letras é quase sempre paródico) mas exige-lhes outro
empenhamento.
Os Los de Abajo (nome
inspirado no título de um romance clássico sobre a Revolução Mexicana) são um grupo
com uma ideologia de esquerda assumida, e muitas das suas letras, apesar do termo estar um
pouco ultrapassado, podem chamar-se "de intervenção".
Uma música em que o
espírito revolucionário não se limita ao textos. Estende-se ao estilo, que os próprios
nomearam de "tropipunk", e que não é mais que uma combinação de ritmos
latinos tradicionais com salsa, ska, funk, rap, reggae e rock.
"A nossa música
não é pura", explicam. "Vimos da cidade. Tentamos mostrar o tipo de caos que
existe num sítio tão grande e com tantos problemas, onde se ouve todo o tipo de
música."
As influências do
grupo incluem papas latinos como Rubén Blades e Pérez Prado, mas também patricarcas
punk como os The Clash e Sex Pistols. Para o público português, a referência Mano Negra
/ Manu Chao será talvez a mais e evidente.
2002, ano de ouro
Os Los de Abajo juntam-se em 1992, formados por Carlos Cuevas (teclado), Yocupitzio
Arrellano (bateria), Liber Terán (voz) e Vladimir Garnica (guitarra), todos estudantes da
Universidade Autónoma do México e todos a tocar em diferentes bandas da cena underground
da cidade. Ao longo dos anos, o grupo foi crescendo.
Iniciamente a tocar ska latino, o grupo começa a tornar-se mais político e orientado
para o punk em 1993-94. O golpe de sorte da banda surge com o envio de algum material para
os escritórios da Luaka Bop em Nova Iorque. A qualidade das demos e o vídeo em que o seu
rock temperado de salsa enlouquece uma multidão num encontro sindical leva a editora de
David Byrne a apostar nos mexicanos.
Los de Abajo, primeiro
disco da banda, é editado em 1998. O primeiro álbum do que se pode chamar a sua
maturidade, Cybertropic Chilango Power, sai em Fevereiro deste ano.
Apesar da influência
do punk e da evidência do ska em muitas faixas, este é um disco muito mais aberto à
música tradicional mexicana - a ranchera, o bolero, o corrido - e à fusão com novos
estilos, como o rai e o dub. É também mais romântico, mas sempre jovem e fresco.
Além do lançamento de
Chilango Power, 2002 fica marcado também pela inclusão do grupo na lista dos nomeados
dos BBC Radio 3 World Music Awards para as Américas e Caraíbas. A sua música de dança
que procura tudo menos alienar as massas cresce também a nível internacional.
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Popa Chubby EUA
Um bluesman pós-moderno
Cantor,
compositor e guitarrista impressionante, um "bluesman" contra preconceitos:
branco, nova-iorquino e criado no punk rock. Em concerto não desfaz um preconceito,
desfaz uma lei da física: um gordo não é necessariamente um pesado. Quem disse que um
branco não pode ser um bluesman? Quem disse que Nova Iorque não pode ter os seus blues,
como Chicago ou Filadélfia? Quem o disse não conhece Popa Chubby, o cantor e formidável
guitarrista que desde o início da década de 90 tem vindo a criar um blues rebelde, sem
pingo de melancolia e miscigenado como a Grande Maçã.
Popa Chubby, 41 anos,
chegou ao blues através dos caminhos do punk rock. Na sua trouxa de peregrino musical
foram-se juntando o country, o jazz, o funk e o hip hop e nenhum desse material fica fora
do seu blues de fusão.
Guitarrista, cantor,
compositor
Popa (Ted Horowitz) nasce em Nova Iorque, numa família proprietária de uma loja de
doces, o que talvez explique a imponência da sua figura física, quase tão intimidante
quanto a energia que empenha nos seus concertos ao vivo.
Aos 13 anos começa a
tocar bateria, mas os Rolling Stones e a influência de artistas como Jimi Hendrix e Eric
Clapton convertem-no à guitarra, o instrumento que o leva para a música como
profissional.
Ao longo dos anos 70 e
80, a sua guitarra bluesy permite-lhe colaborar com artistas como Pierce Turner, Richard
Hell e todos os grandes artistas que chegam a Nova Iorque e precisam de uma secção
rítmica.
Chubby forma a Popa
Chubby Band em 1990, onde também participa como vocalista e compositor, e o seu trabalho
com nome próprio começa a ganhar visibilidade em 1991, quando ganha um concurso nacional
para novos talentos na área do blues, promovido por uma rádio de Long Beach.
Edita o seu primeiro
disco, Gas Money, em 1994. Mas é Booty and the Beast, lançado no ano seguinte, que
afirma Chubby como um dos mais interessantes artistas do blues contemporâneo. O single
Sweet Goddess of Love and Beer torna-se mesmo um sucesso de rádio nos Estados Unidos.
Entre os seus álbuns
restantes, destacam-se Howd a White Boy Get the Blues? (2001) e o recentíssimo The
Good, the Bad & The Chubby, que inclui a faixa Somebody Let the Devil Out, inspirada
no 11 de Setembro e gravada com uma interpretação comovente apenas uma semana depois da
tragédia.
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Yat-Kha Tuva -
Federação Russa
Tuva de guitarra eléctrica
O melhor grupo
asiático de 2001, eleito pela BBC Radio 3, rejuvenesce uma das mais extraordinárias
tradicionais vocais do mundo com a postura e a energia do rock. As vozes são capazes de
fazer tremer o chão e o espírito de Jimi Hendrix é sempre convidado de honra. Tuva é
uma república da Federação Russa perdida no centro da Ásia (tão a norte quanto a Grã
Bretanha e tão a leste quanto o Bangladesh) conhecida apenas duas coisas: os seus
cavaleiros e o invulgar poder da sua tradição musical.
Os seus cavaleiros
conquistaram o mundo, integrados nos exércitos de Gengis Khan. A sua música, e em
especial as suas vozes (como as cantoras búlgaras, os cantores tuvanos são capazes de
produzir várias notas ao mesmo tempo), estão a conquistar público em todo o planeta.
Os Yat-kha apresentam
uma versão nada convencional da música da república. Utilizam os instrumentos e os
estilos tradicionais, as suas letras falam de renas e da primavera nas estepes, mas
Kuvezin & Cª. não esquecem quem ouviram na adolescência.
É sem choque que os
espíritos de Jimi Hendrix ou dos Led Zeppelin convivem com os espíritos nativos numa
música enérgica e surpreendente, em que o rock cobre a tradição apenas como mais uma
camada da história.
E para quem ainda
julgue que a guitarra eléctrica de Albert Kuvezin traz a tiracolo sobre o seu fato
tradicional é uma sinal de decadência, basta ouvi-lo cantar o estilo "kanzat"
a cappela. A força dos seus baixos sísmicos, talvez assustadores para o ouvinte virgem,
não pode ser produzida pela boca de um qualquer americanizado empenhado num suicídio de
raízes.
Prémios, prémios,
prémios...
Kuvezin é o fundador e líder dos Yat-kha (lê-se yat-ha e é o nome da cítara gigante
de Tuva), projecto um passo à frente de Huun-Huu-Tu, um dos primeiros grupos a levar o
"khommei" (canto tradicional) ao público ocidental, que também fundou, mas
abandonou por se sentir limitado pelo seu âmbito folclórico.
O quinteto é ainda
formado por Radik Tiuliush (igil e canto), Makhmud Skripaltschchikov (baixo), Zhenya
Tkachov (kit, kengyrgy e vox) e pela jovem cantora e tocadora de yat-kha Sailyk Ommun, que
desde o ano passado participa nos seus concertos ao vivo.
Os Yat-kha editaram
até agora quatro discos em estúdio, três deles premiados: Dalai Deldiri (1999) ganhou o
prémio do disco da crítica alemã, Yenisei Punk (2000) foi distinguido pela Radio France
International e Aldyn Daska (2001), foi em grande parte responsável pela eleição do
tuvanos como o melhor grupo asiático de 2001 pela BBC Radio 3.
Bootleg, editado este
ano com registos de concertos da sua digressão europeia de 2001, é um impressionante
sopro das estepes, aconselhável a quem ainda encontre algum gelo por derreter nos discos
anteriores, e abre grandes expectativas para o espectáculo em Sines.
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Mabulu Moçambique
Música para
"rebentar"
O mais
internacional dos grupos moçambicanos junta velhos cantores de marrabenta com as figuras
do hip hop emergente de Maputo. O resultado é uma excitante música de dança, com letras
que em Moçambique também cumprem uma função social. Quando os Mabulu começaram a
gravar o seu primeiro disco, em 2000, Moçambique estava inundado. Apesar do pior já ter
passado, continuavam as chuvadas, as falhas de energia, os cortes de estrada. Chegar ao
estúdio era por si só um desafio para os músicos.
Karimbo (2000),
primeiro disco do grupo, é um pequeno triunfo num país em que todos os sobreviventes
são triunfadores. Mas o sucesso que os Mabulu estão a ter a nível internacional é um
grande triunfo para a música do país.
Formados em 1999 com a
ajuda da organização não-governamental suíça Helvetas e do produtor Roland Hohberg,
os Mabulu são o resultado do encontro entre os velhos "crooners" da marrabenta
com a nova geração de rappers moçambicanos. Uma "procura do diálogo" entre
os moçambicanos que é o que precisamente mabulu significa no dialecto shangana.
Dilon Djindji, 73 anos,
junta forças a jovens estrelas como o MC Chiquito e a cantora Chonyl para fazer uma
música para dançar, mas que em muitas letras persegue também uma função educativa:
prevenir a SIDA, o consumo de drogas, a prostituição infantil, nos vários locais do
país por onde dão concertos.
Sucesso internacional
Em termos de mistura, o hip hop e a marrabenta são a base, mas também se identificam
influências do reggae e de ritmos e harmonias sul-africanas e do Zimbabué.
Karimbo e Soul
Marrabenta (2001), os discos editados pelos Mabulu até agora, são talvez os únicos
discos moçambicanos com edição internacional nos últimos 10 anos.
Mas a espera valeu a
pena. Os Mabulu são considerados uma das revelações mais recentes da world music.
Finalistas do "KORA, All Africa Music Awards" e incluídos na lista dos nomeados
da categoria "Revelação" dos prémios da BBC Radio 3 (2001), os moçambicanos
estão a tornar-se alvo de uma crescente atenção da crítica internacional.
Escolhida para encerrar
a quarta edição do Festival Músicas do Mundo, a música "para rebentar" (esta
é uma hipótese de etimologia da palavra "marrabenta") dos Mabulu não se vai
concerteza deixar intimidar pelo fogo-de-artifício.
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