Petrona Martinez. . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . .
Programa "Vox Populi"
Durante o ano de 200, Vox Populi trará a Serpa músicos das sete partidas
do Mundo, seleccionados com base em critérios de qualidade artística e de diversidade
cultural. Pretende-se, com este projecto, por um lado proporcionar às populações de uma
região periférica, tradicionalmente afastada dos circuitos de difusão cultural, o
contacto com manifestações artísticas de qualidade e, por outro, afirmar de forma
progressiva o papel da cultura e da música em particular - como veículo do
desenvolvimento local de Serpa nos próximos anos.
O projecto Vox Populi inclui a realização de concertos, com periodicidade mensal, entre
Dezembro 2000 e Dezembro 2001, e também de algumas iniciativas especiais (conferências
internacionais, blocos temáticos e intensivos) que de algum modo prolonguem e reforcem o
efeito de descoberta e de sensibilização para as linguagens musicais e culturais
diversificadas provocado pelos espectáculos em questão.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
| Serpa
Petrona Martinez
A força e o (en)canto da Colômbia Negra
Serpa, Cine-teatro Municipal,
dia 27 de Setembro de 2001, 22:00h
Serpa vai receber, a 27 de Setembro, Petrona Martinez, a
rainha do bullerengue - um estilo de música com origen na tradição negra da
costa atlântica da Colômbia. Este concerto está inserido no programa Vox Populi e é
dinamizado pela Câmara de Serpa e a ETNIA.
Durante muito tempo, ninguém ouviu falar de Petrona Martinez fora
do seu círculo de familiares e amigos. Entretanto, um dia um jovem investigador da
universidade de Bogotá apaixonou-se pelos ritmos do tambor e da gaita dos areeiros de
Malagana, e Petrona descobriu-se ouvida e respeitada pela gente de fora, na
Colômbia e não só.
A partir daí, a vertigem começou: um disco para a prestigiada editora francesa
Ocora; dois documentários sobre a sua vida e a da comunidade de Malagana;
actuações em Bogotá, na 1ª parte de concertos de Toto La Momposina (outra grande
senhora da Colômbia negra) que seduziram definitivamente público e críticos,
devido á sua presença em cena, a um tempo sensível e apaixonada, terna e poderosa. E
finalmente, a sua presença triunfal no Mercado da Música de Vic (Espanha) há duas
semanas atrás.
E a verdade é que Petrona Martinez entrou no mundo da música, já depois dos cinquenta
anos, quando entendeu que era capaz de compor as suas próprias canções. Antes, só as
águas do rio onde ia buscar areia para sustentar a família numerosa tinham, talvez, o
privilégio de a ouvir. Afortunados todos nós, hoje, porque Petrona transporta a música
dentro de si, sabe inventar palavras e ritmos, unicamente recurso á cadência do próprio
corpo. De uma criatividade extrema ( tem cerca de 100 temas originais em arquivo!),
Petrona encontrou no seu talento uma forma notável de narrar a vida quotidiana da sua
aldeia e do seu povo, as suas crenças e superstições, o sofrimento e a festa, todas
essas pequenas grandes coisas de que é feita a vida de pessoas e comunidades.
E porque canta Petrona? Para ela, a música é um assunto de família. Canta o que ouviu
dos seus antepassados, desde criança, e que agora transmite aos seus descendentes. O
grupo que a acompanha é prova disso mesmo: no tambor e nas vozes, estão os seus
próprios filhos. Na frente, como que possuída pela força e pelo ritmo ancestral das
percussões, Petrona bate nos seios e no ventre, a um tempo ingénua e provocadora, a voz
soltando-se e crescendo à medida que o coro marca e pontua uma cadência quase
lancinante, com palmas e vozes.
|