
Discografia
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Semear Salsa
ao Reguinho
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Os Malteses
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Não Há Terra
Que Resista
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Romances
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Flor De La Mar
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Leitaria Garrett
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Sul
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Negro Fado
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Cantigas de
Encantar
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Lua Extravagante
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Eu Que Me
Comovo Por Tudo
E Por Nada
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As Mais Bonitas
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Canção do Bandido
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La Habana
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Carreira
Vitorino: 25 anos de
histórias na Música Portuguesa
Fonte: Praça das
FloresUnânimemente reconhecido pela crítica e pelo público, o
elevado grau de qualidade artística e de produção alcançado na transposição do disco
"Eu Que Me Comovo Por Tudo E Por Nada" (álbum vencedor do Prémio José
Afonso/93 e do Se7e de Ouro/92 para Música Popular) para o palco, resultou da atitude
desde sempre interessada e empenhada utilizada por Vitorino nos projectos em que
participa, nunca prescindindo da sua total independência e autonomia criativa. As suas
assumidas e sempre presentes raízes alentejanas são uma marca que parece surgir do
'fundo dos tempos', nunca deixando Vitorino de lhes acrescentar um 'toque' de modernidade
e de as enriquecer com o culto da poesia e da palavra.
Presente em alguns momentos-chave da Música Popular Portuguesa (por exemplo o célebre
concerto de Março de 1974, no Coliseu), Vitorino foi companheiro de palcos e cantos de
José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Fausto, Sérgio Godinho e outros nomes
fundamentais da música portuguesa dos últimos trinta anos, estreando-se em 1975 com o
seu primeiro disco assinado com nome próprio, editado num dos periodos de maior
agitação social da História recente de Portugal. "Semear Salsa Ao Reguinho"
foi logo considerado, apesar das condicionantes existentes na época, um ponto de
referência na redefinição de padrões estéticos e caminhos que a música popular viria
a trilhar a partir do meio da década de 70. Nesse primeiro disco estava incluída a
canção que se viria a tornar o seu êxito/emblema mais famoso, transformando-se numa das
canções mais importantes e divulgadas do imaginário colectivo português - "Menina
Estás À Janela".
Viajante de palavras e de terras, Vitorino esteve ligado a um dos mais genuínos registos
da música do Alentejo, o disco do Grupo de Cantares do Redondo. Às 'bases' naturais,
adicionou um acumulado de experiências que passavam pelas serenatas em que participou,
pelas peregrinações 'hippies', pela vida de Lisboa onde se fixou a partir dos 18 anos,
pelas temporadas passadas em diversas cidades europeias e outros locais mais remotos,
pelos contactos proporcionados por combates políticos e estilos de vida que, ainda hoje,
o associam à noite, às tertúlias e aos prazeres boémios. A linha mestra condutora dos
seus dois discos posteriores "Os Malteses" e em "Não Há Terra Que Resista
- Contraponto" não se alterou substancialmente. Já no disco "Romances",
trabalho de 1980, abre-se de par em par outra das suas frentes preferidas: a recolha de
música tradicional que transforma, molda à sua voz e aos seus padrões criativos. Este
disco acabou por se tornar num dos mais importantes álbuns editados na época onde as
preocupações com a preservação do nosso ameaçado património musical tradicional,
imprescindível à nossa identidade nacional, se afirmavam presentes. Foi igualmente
fundamental para o excelente resultado final de "Romances" a participação do
multi-instrumentista Pedro Caldeira Cabral que marcou este trabalho com o seu virtuosismo
e inspiração.
A coerência foi-se mantendo com o decorrer dos anos, mesmo quando os caminhos e estilos
musicais escolhidos por Vitorino eram naturalmente alargados. "Flor de La Mar"
será novamente um trabalho marcante a todos os títulos, chegando o seu autor a explanar
uma variedade de acompanhamentos instrumentais (por exemplo, uma banda tradicional) que
rompia com os limites habituais da 'canção de palavra' nacional. Nesse periodo, surgiu
outra das canções que ajudou a definir a categoria e a atitude de uma carreira -
canção que foi chamada de "Queda do Império". Em 1984, com "Leitaria
Garrett", outra experiência bem sucedida, Vitorino reafirmou o seu amor e
cumplicidade com Lisboa, pelas tradições ameaçadas, por uma série de comportamentos em
extinção e vítimas de um 'progresso' cego e desumanizador da cidade, por figuras e
sítios que as novas 'condições de vida' fizeram desaparecer. Desde a canção-título
à "Tragédia da Rua das Gáveas", Vitorino conduz uma viagem pela capital de
que todos sentem saudades, mesmo os que nunca tiveram hipótese de a realmente conhecer.
"Sul" e "Negro Fado" serão outros tantos passos em frente na
construção de uma obra que não tem pontos baixos e que sempre foi considerada de
vanguarda, onde pontificaram trabalhos com raízes distintas e múltiplas colaborações,
como por exemplo o trabalho sobre um tema musical de António Pinho Vargas ou as
experiências realizadas a partir de formas musicais quase inesperadas (as mornas, as
marchas, o 'reggae'). Vitorino teima em não perder o norte, em arriscar sempre.
Formalmente, algumas das suas grandes aventuras chegariam ainda mais tarde.
Na continuidade ao seu gosto pelos os grupos, Vitorino surge com a formação de "Lua
Extravagante", nome por que responde a partir de 1990 o quarteto formado com Filipa
Pais e os seus irmãos Janita e Carlos Salomé. O sucesso que este grupo rápidamente
alcançou motivado pelo seu reconhecido valor artístico e importância do seu trabalho,
permitiu a divulgação de algum do nosso património musical e a concretização de
contactos e projectos com uma posterior geração de músicos que, sendo membros de alguns
dos mais importantes grupos de pop e rock da actualidade, não recusaram participar em
alguns projectos de muito interesse artístico.
Em 1992 segue-se nova surpresa. "Eu Que Me Comovo Por Tudo E Por Nada", é
escrito, exceptuando uma nova versão de "Marcha de Alcântara", por António
Lobo Antunes; ficcionista consagrado, ficou responsável pelas letras do novo álbum deste
seu amigo. Lobo Antunes, com letras agridoces, retrata uma Lisboa que se perdeu e vidas
que se perdem. Vitorino responde a rigor: compõe melodias em compasso de dança - do
tango à valsa, do bolero ao mambo, onde não falta uma canção de embalar. Os arranjos
são confiados a João Paulo Esteves da Silva que se rodeia de instrumentos de Música
Clássica numa formação de Câmara.
Em finais de 1993 é editada a compilação "As Mais Bonitas" que reunindo os
grandes êxitos da sua carreira alcança vendas espectaculares, ultrapassando o galardão
disco de platina.
1995 traz-nos uma nova incursão pelo mundo cativante de Vitorino. "Canção do
Bandido", editado a 14 de Novembro, a exemplo do seu último trabalho de originais,
tem António Lobo Antunes como responsável pelas letras, à excepção de "Fado
Triste", "Tocador da Concertina" e "Cruel Vento", cujos créditos
se devem a Vitorino. Uma das notas marcantes deste disco é que dos seus 13 temas, boa
parte são fados. Vitorino explica: "Os textos na sua maioria chamam-se fados, que
neste caso reportam a histórias do quotidiano; as personagens com que nos cruzamos
diariamente, que se deslocam para os centros urbanos, quer seja para trabalhar, quer seja
para passear, como fazem os reformados. Os ambientes (os tiques) são de fado, quer nos
textos, quer nas músicas. " E acrescenta: " é um disco muito visual, fílmico.
Tem um ou dois heróis, mas o resto são anti-heróis. É um álbum mais lírico do que
triunfal."
Em 1999 Vitorino lança um disco com o Septeto Habanero, que transformou-se rapidamente
num dos maiores e mais curiosos casos de sucesso da música portuguesa. Como se sabe, o
projecto resultou do encontro durante a EXPO 98 entre o cantor do Redondo e uma das mais
míticas formações da música popular de La Habana. Ali mesmo se agendou uma gravação
conjunta, verificada que foi a paixão de Vitorino pela tradição afro-cubana (nascida
há muito no seu Alentejo natal via influências vindas de Espanha) e o reconhecimento das
suas qualidades de crooner pelos músicos cubanos do Septeto.
O registo surgiu num excelente momento de interesse pelos ritmos caribenhos em geral e
cubanos em particular animado pelo êxito do filme de Wim Wenders "Buena Vista Social
Club" - e foi o sucesso.
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