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Gianluigi Trovesi e Gianni Coscia

Richard Galliano e Michel Portal

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Preços
1ª Plateia: 4.000$00
2ª Plateia:
3.500$00
Laterais:
2.500$00
Camarotes Centrais:
4.000$00
Camarotes Laterais:
3.500$00
1º Balcão:
3.000$00
2º Balcão:
1.500$00
Balcão Lateral:
2.000$00
Galerias:
1.000$00
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Lisboa
Transformar em Popular a Música Culta
Gianluigi Trovesi e Gianni Coscia
(1ª parte)
Richard Galliano e Michel Portal
(2ª parte)

CCB, Grande Auditório dia 24 de Janeiro de 2000

A 24 de Janeiro, no Grande Auditório do CCB vamos ter um concerto de jazz duplo, com dois duos de dois acordeonistas famosos e virtuosos, o italiano Giani Coscia e o francês Richard Galliano, o primeiro com os clarinetes de Gianluigi Trovesi e o segundo com os clarinetes e saxofones de Michel Portal.

Trata-se da vinda a Portugal de dois reputados duos de músicos virtuosos, ambos europeus, manipulando instrumentos comuns e tendo no jazz pontos de partida, chegada ou de passagem. Dois duos tão parecidos e tão diferentes sobre os quais qualquer expectativa deverá ser previamente bem situada.

Gianluigi Trovesi, figura maior do actual jazz transalpino, inventor de projectos dos mais originais que o jazz europeu contém, estabelece uma cumplicidade com o acordeonista Gianni Coscia que mereceu de outra figura próxima, Umberto Eco, uma apreciação elucidativa: “Há aqui um modo de transformar em popular a música culta e em culta a música popular. Em consequência, não procuremos um templo em que se possa colocar a música de Coscia e Trovesi. Eles sentir-se-iam tão cómodos tanto numa sala de concerto como numa esquina ou num café.”

Fixada numa edição do catálogo ECM do ano passado, ‘In Cerca Di Cibo’, a música de Trovesi e Coscia não deixará, porventura, de evocar a atitude do pianismo de John Lewis nas suas linhas de contornos líquidos e reflexivos criando um efeito de graça, beleza e naturalidade mesmo que os quadros evocados deambulem entre a música de cinema, o teatro, o circo, a praça pública e o jazz. Tal como Lewis viria a veicular no Modern Jazz Quartet, sem, contudo, suscitar o mesmo tipo de acusações ostracizantes sofridas por Dave Brubeck, o resultado da cumplicidade de Trovesi e Coscia orienta-se em idênticos territórios.

Numa outra tradição, o acordeonista francês Richard Galliano é um virtuoso, cedo reconhecido como jovem prodígio aos doze anos e, mal saído do conservatório de Nice, tornando-se acompanhante da vedeta da canção Claude Nougaro. As ocasiões para tocar jazz sucedem-se a partir de 1980 afirmando a sua maestria e conquistando em 1991 o prémio Django Reinhard da Academia Francesa do Jazz. Nunca como em Galliano se pôde desfrutar um tão extraordinário domínio técnico do acordeon e, em consequência, um fraseado, sonoridade e fluidez de tão rara qualidade.

A relação simbiótica com o multinstrumentista Michel Portal, outro músico da cena europeia, ocupando um lugar perturbante e singular, fundamenta-se mais claramente no jazz. O duo Galliano/Portal existe desde 1996 fixado no catálogo Dreyfus ‘Blow Up’, significativo repositório de originais bem como evocação superlativa tanto do universo de Hermeto Pascoal como o de um novo Tango.

Instrumento pouco praticado no jazz, o acórdeon conhece em tempos recentes um novo interesse, e são projectos como os que se apresentam neste concerto duplo assaz inédito que nos permitirão verificar não só a sua lógica inserção como também reconhecer novas linguagens.

Umberto Eco, ele próprio amador de jazz, e amigo desde os tempos de escola de Gianni Coscia, é uma figura maior do panorama cultural italiano e mundial. As suas considerações sobre a música de Trovesi e Coscia concedem à música do Duo uma outra dimensão. (CD ‘In Cerca Di Cibo’ ECM 2000).
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Umberto Eco

 

 

 



Diabos em Música
Por Umberto Eco

Umberto Eco, ele próprio amador de jazz, e amigo desde os tempos de escola de Gianni Coscia, é uma figura maior do panorama cultural italiano e mundial. As suas considerações sobre a música de Trovesi e Coscia concedem à música do Duo uma outra dimensão. (CD ‘In Cerca Di Cibo’ ECM 2000).

Durante a minha adolescência, pouco depois do fim da guerra, a única maneira de ouvir jazz numa cidade de província, era reunirmo-nos em casa de um amigo que tivesse a sorte de possuir um fonógrafo e alguns discos de 68 rotações. Aparte dessas sessões quase clandestinas, devo a minha iniciação jazzística desses anos ao acordeon de Gianni Coscia cuja música já se deslocava dos salões de dança locais na direcção das casas (imaginárias) de má reputação em New Orleans.

Nesses tempos o jazz era uma coisa e a outra música uma outra. A rádio dava-nos canções, excepto à Sexta-feira que era reservada a um concerto sinfónico; quanto ao resto, tivemos que esperar que um grupo de fans em Alessandria constituísse uma espécie de ‘Clube do Quarteto’ que convidava intérpretes célebres uma vez por semana. Mas os três universos permaneciam separados.

Aprendemos, é certo, que o estilo de jazz sinfónico existia, mas mesmo o nosso entusiasmo ao princípio por ‘Rhapsody in Blue’ ou por ‘Concerto em Fá’ não nos impedia de ver que se tratava de confiar melodias e ritmos ‘jazzy’ a um conjunto orquestral, congelando tudo numa partitura intocável. A união era agradável, mas o género não adquiria nenhuma fisionomia definida. A música sinfónica em estilo de jazz permaneceu num obscuro limbo, tocada com frequência em concerto, vindo a ser mais tarde, em Milão, ignorada nas caves onde se tocava um jazz mais nobre e fiel às suas origens ‘baixas’.

Segui a maturação de Coscia até ao seu encontro com Trovesi e descubro agora algo difícil de definir na sua experimentação, e que não é mais o jazz das origens e nem é sequer a tentativa de fazer entrar Armstrong no Carnegie Hall.

Como toda a experimentação , o trabalho de Coscia e Trovesi é difícil de definir, e basta ouvir o disco que deambula entre homenagens a grandes mestres – qualquer que seja a esfera de um universo musical em que estejam inseridos – tais como Carpi e Villoldo, e invenções originais dos dois intérpretes, passando pela pesquisa de timbres antigos e rememorizações clássicas.

Estamos aqui em presença de uma nova transversalidade onde se anulam distinções de géneros, com uma intenção – essa, sim, verdadeiramente nova – trazida ao folcore italiano (anunciar um tratamento jazzy de temas como ‘La Migliavacca’ ou ‘Celebre Mazurka Variata’ seria uma verdadeira blasfémia; se por ofensa ao jazz ou à ‘Migliavacca’, isso ignoro …) mas aqui feita à maneira de um encontro de tradições aparentemente incompatíveis, esconjurando os fantasmas inexistentes de famílias musicais.

E, para começar, Coscia e Trovesi anulam mesmo a distinção entre a música que segue uma partitura e a que improvisa a partir dum tema. Poder-se-ia falar, quando isso acontece, improvisação sobre formas rígidas. Como uma série de alusões à obra, ao ouvinte e a eles-próprios, Coscia e Trovesi operam em duas frentes, permitindo-se, no interior de uma homenagem a um outro músico, em alegre poética da cadência.

Neste jogo de referências entre textos e heranças diversas, induzem, por vezes, no auditor, sistemas de expectativas que são quebrados de repente ao transformar as regras do jogo. Esta é uma das características da experimentação, uma característica assumida, neste caso, sem renunciar àquilo que a música experimental renuncia frequentemente, quero dizer, o prazer. Coscia e Trovesi sabem contaminar – deixando intacta a possibilidade de reconhecer a citação – sem que a unidade da composição venha a sofrer. Antes pelo contrário, direi mesmo que - com um traço daquilo que é reconhecido tipicamente como pós moderno – eles trazem-nos um ‘duplo código’ à música. A execução pode ser apreciada a um ‘alto’ nível no qual o auditor compreende as referências intertextuais, mas também a um ‘baixo’ nível, como ‘música’ tout court, sem se ser incomodado com referências eruditas e maliciosas.

Não existe nada de mais sedutor que a malícia, quando ela tem a humildade de se disfarçar em ingenuidade. Sobretudo quando ela gera, a cada nova citação ou invenção, uma festa do timbre que sabe aproveitar todas as possibilidades dos instrumentos, e isso, naturalmente, sem recorrer à electrónica.

Eis portanto uma maneira de tornar popular a música culta e culta a música popular. Do mesmo modo que não nos interrogamos sobre em que templo devemos colocar as interpretações de Coscia e Trovesi. À esquina duma rua ou numa sala de concerto, eles sentir-se-iam tão bem como em casa. Voltar ao Topo

 

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