June Tabor
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Artigos
June Tabor ao
vivo no CCB
Biografia
June Tabor excepcional
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June
Tabor ao vivo no CCB
Dia 15 de Setembro de 2000Para muitos,
June Tabor é considerada uma das melhores intérpretes femininas de música popular
britânica, se não a melhor intérprete do seu tempo.
O que a liga às antigas tradições britânicas são as suas arrepiantes e
emocionantes qualidades vocais. O que a liga ao presente da Grã-Bretanha é o seu bom
gosto, arranjos, e músicos, juntamente com a sua vontade e disposição para experimentar
novas sonoridades e para interpretar obras de compositores contemporâneos.
Na verdade, June Tabor não se considera propriamente uma folk-singer, ideia
talvez construida inicialmente a partir do seu álbum de estreia - "Some Other
Time" - um trabalho de «standards» algo falhado.
Pelo meio da tradição britânica que ela persegue, seria de adivinhar que mais
tarde ou mais cedo June Tabor acabasse por fazer justiça ao seu talento, algo que
aconteceu a partir do disco "A Quiet Eye" e que faz o cruzamento entre o
património tradicional e a uma certa história da música popular do século XX. Neste
disco June Tabor apresenta o cruzamento entre os seus «songwriters» favoritos, os
clássicos dos últimos cem anos e a herança popular das ilhas, uma intersecção mais do
que perfeita - capaz de se ajustar à sua voz.
June Tabor canta músicas de Richard Thompson, George Gershwin, Elvis Costello, Joni
Mitchell, Shane MacGowan, Cole Porter, Ewan MacColl e Velevet Underground e tem sido
regularmente apelidada de nomes extravagantes como: diva, tesouro nacional, chanteuse e
rainha da música popular. Expressões como: fervura a fogo lento, sensual, escura e
evocativa são regularmente utilizadas para a descrever. Para ver e ouvir no dia 15 de
Setembro no Grande Auditório do CCB. |
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Biografia
Publicado no Correio
da Manhã a 16 de Agosto de 2000June Tabor
aborda o rock e o jazz - que dizer dos seus trabalhos com a também grande Oyster Band, ou
com a Creative Jazz Orchestra - mas é aquela que é chamada de música folk que ela
interpreta como ninguém, em conjunto com outros - os seus trabalhos ao lado de outro nome
inesquecível como Maddy Prior, nas Silly Sisters - ou a solo - em álbuns
extraordinários como "Ashes and Diamonds", "A Cut Above",
"Abyssinians" ou "Aqaba".
Elvis Costello é bem o exemplo de quem caiu de amores por esta mulher que, corajosamente,
afirma que as palavras são mais importantes do que a música - canta tudo desde que as
palavras lhe façam sentido. Costello ficou tão maravilhado com a sua versão de
"Smilling Shore" de Andrew Cronshaw que não só começou ele a interpretá-la
como escreveu um par de temas especialmente para ela.
Durante muito tempo June manteve o seu emprego numa livraria com a carreira e só no final
da década de 80 enveredou pelas canções a tempo inteiro.
Em finais dos anos 80 a senhora Tabor resolveu regressar ao passado e lembrar as Silly
Sisters com Maddy Prior em "No More to the Dance" e, de acordo com o texto que
Colin Irwin escreveu "aborreceu parte da sua audiência com mentes mais restritas com
'Some Other Time', um álbum com temas de jazz. Ospuristas ficaram chocados por ela ter
abraçado o jazz com todo o seu coração. Não deviam ter ficado chocado: 'tudo o que
canto é escolhido com base nas letras e sempre foi assim. Seja jazz ou temas
tradicionais, ou outra coisa qualquer, as palavras estão primeiro...a música é apenas
um veículo que as palavras utilizam', diz June".
O sucesso de vendas que foi "Freedom and Rain" surgiu nos anos 90, deu origem a
uma digressão com a Oyster Band e mais tarde a uma colaboração com o harpista escocês
Savourna Stevenson e com o baixista Danny Thompson em "Singing the Storm"
(1996).
Mais notáveis ainda foram os álbuns a solo "Angel Tiger" em 1992, que inclui
uma das mais devastadoras canções que Elvis Costello escreveu para ela, "All This
Useless Beauty" e "Against the Streams em 94,m os dois a consolidarem a sua
parceria musical com o pianista Huw Warren e com o violinista Mark Emerson e produzidos
por John Ravenhall.
Em 1997 gravou "Aleyn", o seu primeiro álbum para a Topic em mais de uma
década e uma enorme e nova audiência rendeu-se-lhe aos pés sob efeito de uma verdadeira
poção mágica. |
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June
Tabor excepcional encanta CCB
Publicado no Correio
da Manhã a 17 de Setembro de 2000, por António RubioJune Tabor
é uma verdadeira "jóia da coroa" de Inglaterra (foto Amílcar Teixeira)
Considerada grande intérprete de canções de arte e a maior cantora de "folk"
de sempre em Inglaterra, June Tabor encantou a relativamente pequena audiência que
aguardava o seu concerto de sexta-feira no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.
June Entrou em palco a sós e cantou a velha balada "Bonnie Boy" de forma
arrebatadora. A voz linda, com a colocação certíssima e a segurança da sustentação
das frases, deixaram desde logo o público extasiado.
A segunda canção trouxe a surpresa da noite. Já acompanhada ao piano pelo galês
Huw Warren, Tabor entoou as primeiras notas da canção "Round About Midnight",
de Thelonious Monk, e deixou-nos perplexos com a intensidade dramática que pôs na
interpretação e na forma como explana a composição, reconhecidamente um dos temas mais
difíceis de executar no mundo do jazz.
Thelonious Monk muitas vezes criticou músicos de jazz por não tocarem esta balada da
forma como ele a compôs, entre os quais Miles Davis, que Monk quase insultou pela versão
que este fez da canção, cujas linhas melódicas não terão sido respeitadas pelo grande
trompetista. Assim o disse o pianista e autor do tema, que também ameaçou Miles
fisicamente (o "boxeur" amador de grandes méritos preferiu não se encontrar
com os quase dois metros de Monk, nem com a sua permanente má disposição, assim dizem
as "bíblias" do jazz).
Quanto a June Tabor e ao seu pianista, estou certo de que Monk iria dar-lhes os parabéns
pela espantosa interpretação vocal e instrumental.
O concerto seguiu com baladas que remontam ao século XIII até às composições actuais
de Danny Thompson e Elvis Costello, que compôs uma belíssima valsa expressamente para
Tabor. Pelo meio foi-nos dado a ouvir baladas e valsas dos séculos XVI e XVII. O elemento
de ligação entre estas canções foi o amor em todas as suas formas, felizes e
infelizes. Antes de cantar, June teve sempre a preocupação de falar sobre o conteúdo
dos temas e, já na segunda parte, após interpretar temas que versaram os dramas amorosos
e os amores não correspondidos, brindou o público com uma canção de "amor
perfeito": "Night and Day", de Cole Porter. Neste tema, Tabor demonstrou
mais uma vez toda a sua capacidade de interpretação, pois enveredou pela via do jazz em
vez de se limitar a interpretá-lo na forma mais simples, ou seja, como foi composto para
os cantores da Broadway. Mais uma vez o pianista correspondeu com um solo a todos os
títulos notável pela improvisação e técnica presentes.
Canções como "The Gardener", "I Will Put My Ship In Order" e
"Waltzing's For Dreamers", encheram o Auditório com a voz ora rouca ora
cristalina desta cantora que é uma verdadeira "jóia da coroa" de Inglaterra.
O violinista Mark Emerson também fez sentir a sua notável técnica no acompanhamento
simultâneo com o piano. O nível dos instrumentistas esteve igualmente em destaque em
duas peças para piano e violino interpretadas em ambas as partes do espectáculo.
Espectáculo este que terminou com o público a aplaudir de pé June Tabor, que
retribuiu a manifestação com mais uma bela balada. Um concerto para recordar e para
lastimar a falta de público que perdeu um trabalho a todos os títulos excepcional.
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