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Ao vivo no Coliseu do Porto
Patxi Andión
Dia 23 de Março de 2000, 22 horas

Entrevista publicada por Júlio Roldão no Jornal de Notícias

O autor do «Nos pasarán la cuenta» regressa hoje aos palcos após onze anos de silêncios e de recolhimentos universitários

Dez anos?, Eu diria vinte, como em «veinte aniversario». Há vinte anos, Patxi, esse teu canto, «posiblemente», esse teu canto arrepiava, de verdade. Possivelmente por ter um ou outro verso mais duro, como esse «canto à la madre que me parió». Quem o não cantou, fingindo ser «cantautor», como tu... Quem o não cantou, mesmo sem essa tua rouquidão militante. Quem não cantou aos sonhos, à terra, ao amor? Como tu. Em teu canto.

«Há onze anos que não canto em público. Nunca deixei de fazer música, um músico não deixa de ser músico, mas não estava nos meus planos actuar em público. No ano passado gravei um disco -«Nunca nadie» - sem intenção de regressar aos concertos ao vivo. Entretanto, lançaram-me este desafio de actuar no Porto, num espectáculo para professores, como eu. E eu disse que sim, se os músicos com quem gravei o último disco estivessem dispostos a isso».

Dez anos de silêncios? Todos nós estivemos dez anos fora. Dez anos ou mais. E dez anos, às vezes, não é muito tempo. Sabes, eu não via o Avelino Tavares vai quase em vinte anos (ou serão só dez?). E, no entanto, o Tavares do Mundo da Canção é, para mim, uma referência portuense nesta coisas das cantigas comprometidas, nesta coisa do canto livre. E vivemos na mesma cidade. É ele quem está a promover o teu espectáculo de logo à noite no Coliseu do Porto.

«Neste momento, direi apenas que este regresso aos palcos é um espectáculo, no Porto, muito estimulante. Assim, ponto. Venho cantar, a convite de gente que, como eu, está ligado ao Ensino... A convite de professores, numa cidade e num país que eu também sinto como muito meu.(...) Venho também em homenagem à solidariedade e à generosidade do ofício de professor, do acto de ensinar, como sempre refiro quando apresento a canção do maestro»
Tu que já fizeste cinema e te disfarçaste de Pepe Carvalho e até de Che Guevara, tu não penses que este forma de entrevistar são coisas de velhos.

Coisas de quem tinha vinte e poucos anos há vinte e poucos anos, como o público que vais encontrar logo à noite no Coliseu do Porto. Vinte e poucos anos tem o João, um dos meus quatro filhos, um dos jovens fotógrafos que vai andar a tirar fotografias durante o teu concerto. Ele disse-me que tem uma vaga ideia daquela tua «nos pasarán la cuenta»...

«Quando escrevi o "veinte aniversario" tinha apenas dezoito anos. Não tive mérito algum. Apenas tive a sorte, ou o privilegio, de ver essa história, de a projectar numa canção. Sim, faz parte do último disco e vou cantá-la logo à noite. Cantigas novas também. Canções que poderão integrar o meu próximo disco e que vou cantar, pela primeira vez em público, aqui no Porto, como «Maria no Coração» e «Sempre, isso nunca».

Talvez não acrediites, mas ainda há uma geração empenhada e comprometida que tem vontade de voltar a ouvir-te. Na biografia que o Avelino Tavares mandou para os jornalistas, lembra-se que deste protagonismo a prostitutas, a cães vadios, aos pobres, aos amargurados, aos amantes desenganados pelo tempo, aos idealistas desenganos pela vida. Hoje ainda há gente que precisa que outros lhe dêm voz, nestes tempos de ruptura.

«Só se pode viver em ruptura constante. Se alguém ganha alguma coisa de novo, perde outra».

Palavras de Patxi Andión, licenciado em Psicologia, Jornalismo e Sociologia e doutorado em Sociologia, na Faculdade de Ciências da Informação de Madrid, onde lecciona. Como ele diz «Nunca Nadie». Voltar ao Topo

 

 

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