Na Lúa (Galiza)
. .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Biografias
(Portugal) Realejo
(Galiza) Na Lúa
(Galiza) Os Xarelos
(Castela) Tradere
(Astúrias) Felpeyu
(Escócia) Bùrach
(Portugal) Lelia Doura
(Miranda) Las Fraitas
. . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
|
Festival
Grupos presentes no
II Festival Intercéltico de Sendim
Sendim - 3, 4 e 5 de Agosto de 2001O II Festival Intercéltico de Sendim vai realizar-se de 3 a 5 de
Agosto, trazendo vários propostas musicais de Portugal e da vizinha Espanha, tendo ainda
espaço para as conferências, animações de rua e exposições. Fique aqui com as
biografias dos vários grupos musicais presentes, um trabalho desenvolvido pela "Sons
da Terra", e que espelha a forte vocação de estudo e divulgação realizada por
esta editora e produtora.
6ª feira, 3 Agosto de 2001, às 21:00h
Realejo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Por vezes assim acontece: uma música
emergindo de um tempo sem tempo apodera-se de todos os nossos sentidos, fazendo de cada
som e de cada silêncio um momento verdadeiramente único de celebração da nossa vida
colectiva. Os sons do grupo realejo, sabêmo-lo, transoportam-nos para o sortilégio da
(re)descoberta das nossas raízes originais, estabelecendo laços e relações tão
insuspeitas como inesperadas. São assim as músicas da terra!
De um modo geral, o grupo Realejo
começou por se dedicar à interpretação da música das tradições europeias (a partir
de tempos medievos), com particular incidência na música para sanfona instrumento
que, durante o séc. XIX, desapareceu do universo musical português e que Fernando
Meireles Pinto, com labor pioneiro entre nós, recuperou, reconstruindo-o a partir de
diversas fontes, nomeadamente das figuras de presépio dos séc. XVII e XVIII, da autoria
do escultor Machado de Castro.
Criado em finais de 1990, o grupo
surgiu, pois, como uma consequência natural de todo um trabalho de investigação e de
recuperação de instrumentos específicos da música tradicional portuguesa, com
particular destaque para a sanfona, como afirmou Fernando Meireles: "O repertório do
Realejo está, de facto, vocacionado para a sanfona. O que temos feito até agora é tocar
toda a música que existe para a sanfona, desde a Idade Média, passando pelos românticos
do séc. XVIII, pelos compositores franceses que escreveram para a sanfona e pela música
tradicional. A pouco e pouco, temos vindo a adoptar outra espécie de caminho, com
composições nossas."
De referir o facto de Fernando
Meireles integrar também nos seus estudos organológicos instrumentos como a viola beiroa
e a viola toeira instrumentos que considera serem de uma beleza rara numa
linha de acção-projecto de enraizamento expressivo da recriação da música tradicional
portuguesa que iniciou em 1984.
A música veiculada pelos realejo
sugere-nos uma viagem de características acentuadamente inetrcélticas, sendo de realçar
os ecos bretões e galegoas, ao lado do repertório extraido do legado tradicional
sobretudo do Norte de Portugal. A este propósito, não deixa de ser revelador e
determinante o facto de o trabalho do grupo procurar, na diversidade expressiva, as
raízes culturais identificadoras, num processo-projecto rigoroso, recusando modas e
oportunismos nas suas abordagens acentuadamente folk.
O talento e a criatividade dos
Realejo encontram-se testemunhados por duas obras a todos os títulos referenciais no
contexto da melhor folk portuguesa: Sanfonia (1995) e Cenários (1998). Conjugando mestria
e virtuosismo com emoção e entusiasmo, os Realejo são um daqueles grupos que fazem a
diferença no seio de um movimento folk. A sua música arranca do legado/inspiração
tradicional e inscreve-se no contexto das eurofonias folk em tons maiores de excelência
(re)criativa.
Amadeu Magalhães: gaita de foles, flautas,
concertina, braguesa e cavaquinho | Fernando Meireles: sanfona, bandolim, cavaquinho | Qui
Né: percussões | Rui Barros: violoncelo | Miguel Veras: viola
6ª feira, 3 Agosto de 2001, às 22:00h
Na Lúa
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Em princípios dos anos 80, um grupo
de jovens do Porriño, numa Galiza muito próxima das lusas terras, partilhou o palco com
o grupo Doa, então já uma referência incontornável da primeira vaga folk na Galiza. E
desde logo ficou bem claro que pretendiam instalar-se bem na frente da modernidade
expressiva dessa mesma folk, assumindo as mais diversas influências/convergências,
conforme fez questão de exprressamente o referenciar Antón Rodriguez, um dos fundadores
do grupo: "Na Lúa é um grupo originário do Porriño, em Pontevedra. Portanto,
somos galegos. Mas em qualquer caso e como um grupo permeável que sempre fomos, na nossa
música confluem sons e referências que vêm do norte, do centro e do leste da Europa, da
Ásia e do norte de África. Também nos influenciou de forma decisiva e especial a nossa
proximidade geográfica com Portugal, país com o qual também temos uma grande
proximidade cultural."
De algum modo contrariando a mais
recente tendência para se convidarem músicos e instrumentistas famosos para
colaborações na feitura de discos (eles que em anteriores trabalhos discográficos
contaram com o apoio de outros músicos e que têm partilhado palcos com artistas como The
Chieftains, Capercaille, Malevaje, La Frontera e Värttina, entre outros), Na Lúa
chamaram gente da música tradicional para colaborar no álbum Feitizo, alguns dos quais
mesmo não anteriormente gravados.
E vinte anos de vida permitem-lhes
ter já uma ideia muito clara sobre toda a evolução do movimento folk na Galiza, como o
refere Antón Rodriguez, um dos históricos do grupo: Nos anos 70 havia na Galiza um
movimento com muita repercussão, chamado Voces Ceibes, semelhante ao movimento catalão
da Nova cançó. Faziam parte desse colectivo grupos e artistas muito comprometidos,
inclusivé politicamente. Havia gente que cantava com a sua guitarra e começaram a
aparecer os primeiros grupos, como Fuxan os Ventos.
Em princípios dos anos 80, apareceu
uma nova corrente musical, iniciada pelos Milladoiro e no qual nós nos inserimos. O que
se pretendia era recuperar o som da música tradicional galega e dignificar o som da
gaita, que não era utilizada pelos cantautores. Nessa altura apareceu o som da música
galaica, com amplos pontos de ligação com a música bretã, irlandesa e escocesa.
Cria-se com essas culturas um vínculo, uma espécie de irmandade e registam-se
influências fortes na medida em que somos consumidores dessas músicas celtas. Em
princípios dos anos 80 havia um compromisso social e político e assistiu-se a uma
grandiosa explosão de propostas comprometidas com este tipo de posturas e atitudes
musicais.
E neste contexto o contributo dos Na
Lúa foi, importa reconhecê-lo, tão importante como decisivo, pela teimosia e pela
persistência, pela crença num projecto cultural de dignificação e vaçorização da
música galega. E, hoje, os Na Lúa permanecem, por mérito próprio e com toda a
legitimidade derivada dessa postura de intransigência, como uma das mais importantes e
influentes formações da folk galega.
Antón Rodriguez: gaita, saxofone,
flautas | Cándido Lorenzo: gaita, clarinete, flautas | Ricardo Pereiro: guitarra baixo |
Xavier Camba: bateria, percussões | Xavier Debesa: acordeão, voz | Xosé Paz Antón:
guitarra, voz
Sábado, 4 Agosto de 2001, às 21:00h
Felpeyu
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O espaço privilegiado para a
divulgação da nossa música é a sociedade asturiana, para a qual se destina o nosso
trabalho e do qual é a correspondente depositária. Assim, consideramos que somos mais um
elemento do processo de recuperação e de dignificação da cultura das Astúrias.
Os Felpeyu integram a linha da
frente mais expressiva e enraizada da folk asturiana, com uma vigência e uma validade
culturais verdadeiramente singluar e exemplar. E, neste sentido, são determinantes as
fontes às quais recorrem para a reelaboração folk da música tradicional asturiana:
cancioneiros de música popular, partituras e manuscritos de música coral harmonizada de
cantares populares, arquivos sonoros de grupos de investigação etnográfica, a música
popular do dia a dia das gentes, e, naturalmente, as suas próprias composições baseadas
em estruturas e ritmos tradicionais.
Nos Felpeyu permanecem actualmente
dois músicos fundadores do grupo, Igor Medio e Ruma Barbero. Igor Medio, natural de
Xixón, em plena terra asturiana, cresceu no seio de uma família particularmente devotada
ao canto coral, tendo efectuado estudos de música clássica. Depois de algumas
experiências nos domínios mais expressivos do rock e dos blues, Igor Medio passou a
consagrar-se mais à música folk (começou por instrumentos como a guitarra e o bandolim
mas logo mais se fixou no bouzouki, dio qual é um talentoso executante), tendo-se
destacado pelo seu estilo bem pessoal em elaborar arranjos e interpretações da música
tradicional asturiana Quanto a Ruma Barbero, nascido em Somió, terra pertencente ao
concelho de Xixón, formou em 1991 com Igor Medio os Felpeyu quando ambos se encontravam
em Salamanca, estudando na Faculdade de Belas Artes e do qual faziam ainda parte dois
galegos de Ourense, os irmãos gémeos Cástor e Félix Castro. Ruma foi aluno do grande
gaiteiro asturiano Manolo Quirós mas acabaria por se dedicar ao bodhran e percussões,
sendo mesmo um dos pilares essenciais da rítmica do grupo.
Um outro aluno de um grande gaiteiro
das Astúrias (o mestre Xuacu Amieva) é Xuan Nel Expósito, natural de Villamiana,
concelho de Uvieu, que se juntou aos Felpeyu em 1994, tendo trabalhado com um dos mais
importantes e prestigiados colectivos de investigação etnográfica da região, o
influente Andecha Folclor, bem como tocado gaita de foles nos inícios dos Llan de Cubell,
também um dos mais importantes grupos da folk asturianas de hoje e de sempre. No entanto,
o principal instrumento de Xuan é o acordeão diatónico, cujas técnicas específicas
das Astúrias aprofundou e ensina às mais jovens geracões de acordeonistas do país.
Também tendo passado originalmente pelos Llan de Cubell (do qual foi um dos membros
fundadores e com o qual continua a colaborar regularmente), Elías Garcia nasceu e vive em
Uvieu, tendo começado por tocar gaita e whistle em meados dos anos 80, passando depois
pelo bouzouki e acabando por se fixar, em inícios dos anos 90, no violino, instrumento
para o qual se tornou um dos principais responsáveis pelo resgate da técnica do mesmo
nas Astútias.
Mas os Felpeyu contam ainda com a
colaboração de um músico nado e criado em Xixón, Carlos Redondo, sem dúvida o membro
do grupo com maior e mais varida experiência: trabalhou intensamente na cena rock (como
músico e professor, produtor e engenheiro de som) sendo amplamente conhecido pela sua
integração no célebre grupo de pop-rock asturiano Los Locos (guitarra baixo e voz
principal). O seu envolvimento com a cena folk aconteceu nos inícios dos anos 90, tendo
produzido em 1994 o primeiro disco dos Felpeyu, após o que passou a fazer parte do mesmo.
Vindo de fora das Astúrias (nasceu
em Valladolid, cidade situada em terras de Castilla-Léon), Fernando Oyagüez começou por
receber uma formação musical clássica, após o que descobriu a música folk, tendo
passado pelo grupo la Bazanca, antes de se juntar, em 1997, aos Felpeyu. O que de modo
algum o impediu de continuar a cultivar a música folk castelhana, tendo mesmo introduzido
no repertório dos Felpeyu um set de temas castelhanos.
Por fim, a mais recente aquisição
do grupo, Lisardo Prieto, entrado em 1999, um pixuetu (de El Pitu, concelho de de
Cuideiru), estudou gaita asturiana mas logo mais se passou para o violino, tendo tido como
mestre o violinista Guzmán Marqués. Depois de alguns anos passados a melhorar a sua
técnica, estudando quer nas Astúrias quer no estrangeiro, Lisardo Prieto elaborou
cuidadosas investigações sobre a aplicação da ornamentação da gaita asturiana ao
violino, sendo hoke o principal professor do instrumento nas Astúrias
A excelência expressiva dos Felpeyu encontra-se invulgarmente documentada num álbum ao
vivo recentemente editado, gravado na sequência de uma longa e extraordinariamente
aplaudida tournée realizada pelo grupo na Austrália.
Xuan Nel Expósito: acordeão, gaita
asturiana | Ruma Barbero: bofhran | Igor Medio: bouzouki, voz | Fernando Oyagüez:
violino, voz | Lisardo Prieto: violino, voz | Carlos Redondo: guitarra, baixo eléctrico e
voz principal
Sábado, 4 Agosto de 2001, às 22:00h
Bùrach
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Bùrach display verve, skill and
imagination as they smack the ceilidh adventure button
This will have lovers of
modern Celtic fusion music struggling to find the right superlatives
Não raro, na
primeira leitura dos press releases que nos chegam ficamos com a sensação de que há um
mais que evidente exagero da parte dos publicitários que sempre se escondem
por trás deste tipo de informações no sentido (legítimo) de procurarem promover os
grupos e influenciar desde logo os promootres e organizadores. No entanto, por vezes, tais
palavras acabam por revelar-se perfeitamente adequadas e expressivas, como sucedeu com
aquele extracto de um texto sobre os Bùrach.
Its fast and furious and
obviously theres a strong base, but theres a poppy side to it as well, and
rock. Tgeres stuff you can really dance to and stuff you can have a good listen to.
Something for everybody, I think. Eis como descreve Ali Cherry a música dos Bùrach, um
grupo criado ne cidade escocesa de Edinburgh em 1994, justamente no ano em que venceu a
prestigiada Scottish Folk Band Competition, desde logo se projectando para cena folk
britância e europeia com invulgares níveis de competitividade.
O repertório do grupo
conjungando a música tradicional escocesa com ritmos modernos e apelativas composições
próprias assume-se como sendo seriamente escocês e tem-lhes valido a adesão do
público mais exigente e de forma a todos os títulos surpreendente, sinal inequívoco da
força expressiva que levaria o Scottish Arts Council (em conjugação com a BBC
Scotland., The Scottish Music Information Centre, The Scottish Trade International e The
British Council) a incluir, em 1999, o grupo numa compilação discográfica justamente
intitulada Seriously Scottishn.
Nos anos de 1994 e de 1995, os
Bùrach efectuaram digressões pela Escandinávia, França, Itália e Holanda, tendo sido
mesmo o grupo de suporte de formações como os Bog Country, Tom Robinson, De Dannan e The
James Taylor Quartet. O álbum de estreia do grupo, intitulado The Weird Set, publicado em
1995, alcançou sucesso invulgar e, depois de ter sido amplamente apresentado em
concewrtos ao vivo, levou o grupo de novo para os estúdios, do que resultou a
publicação de Born Tired, do qual saltaram desde logo composições para
compilações que se tornaram verdadeiramente referenciais: The Electric Muse IIe
Folkn Hell (EMI).
Em 1999, os Bùrach percorreram todo
o reino Unido e a Noruega, com passagem por alguns dos mais prestigiados festivais, sendo
mesmo a única banda não irlandesa a ser convidada para tocar no Cross Culture Music
Festival, em County Clare, na Irlanda. E depois de uma intensa digressão pelos Estados
Unidos, seguir-se-iam actuações na escandinávia (Suécia e Noruega), com incursões na
Ásia (bangkok e Hong Kong), Médio Oriente e regresso a numerosos países da Europa
(Holanda, Bélgica, espanha, Alemanha, Itália, frança e Reino Unido). Após o que se
assistiria ao seu regresso aos estúdios, em dezembro de 1999 e Janeiro de 2000, para a
gravação do terceiro álbum, intitulado Deeper, uma vez mais recolhendo louvor unânime
da crítica da especialidade e aprovação generalizada do público folk que já os tinha
mais que consagrado nas suas actuações ao vivo. O que foi, aliás, decisivo para a
passagem de todos os seus elementos a profissionais da música.
Ali Cherry: voz | Doug Anderson:
guitarras, bandolim e coros | Eoghain Anderson: bateria e percussões | Greg Borland:
violino eléctrico e coros | Roy Waterson: guitarra baixo e coros | Sandy Berchin:
acordeão e coros
Sábado, 4 Agosto de 2001, às 18:00h (Largo
da Igreja)
Tradere
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
As nossas relações de amizade com
Jaime Lafuente foram sempre de cumplicidade, ciclicamente renovadas e partilhadas durante
as celebrações intercélticas na lusa terra e nos encontros musicais segovianos de todos
os contentamentos. Das suas andanças musicais retinhamos um já distante álbum a solo e
uns cantos do ciclo natalício recriados pelos Tradere, grupo por ele formado juntamente
com Eugenio Rodriguez, companheiro de La Carraca.
É mais ou menos consensual o facto
de a música folk castelhana ter permanecido durante muito tempo sacralizada em
formas/fórmulas assentes numa base instrumental de rondalla, com homens instrumentistas
que cantam e mulheres que cantam e tocam percussões. Este era, digamos, o arquétipo
reinante, esgotado, que inquietava muitos dos novos músicos e instrumentistas chegados à
folk. Jaime Lafuente e Eugenio Rodriguez, os músicos que deram corpo e alma ao projecto
Tradere, tinham concluido, à semelhança de outros companheiros, que se impunha uma nova
atitude, susceptível de operar a mudança, transformadora e renovadora: Desde há muitos
anos que se verifica uma necessidade de superação daquele modelo e de evolução da
música para aspectos mais contemporâneos. Mas como é preciso melhorar sem desvirtuar,
é fundamental um conhecimento externo e interno de tudo o que se tinha feito.
A importância de conhecer os
caminhos feitos para melhor ir definindo os caminhos a percorrer. E, nesta ordem de
ideias, o caso de Tradere é verdadeiramente paradigmático: Jaime Lafuente e Eugenio
Rodriguez são músicos muito familiarizados com a multiplicidade expressiva da música
tradicional, aos mais diversos e distintos níveis, tendo feito parte integrante de
formações, grupos e projectos que deixaram marcas indeléveis no panorama da folk
castelhana. Jaime Lafuente, justamente considerado como sendo um dos mais importantes
intérpretes da música tradicional castelhano-leonesa, participou na gravação de
Colectivo I, reconhecido como sendo uma das experiências mais interessantes da música
folk da sua região e publicou, a solo, o álbum Divergente, obra a todos os títulos
referencial que lhe valeu numerosos concertos e lhe abriu as portas dos principais
festivais folk do estado espanhol.
Jaime Lafuente permanece como um dos
pilares desse grupo que é uma verdadeira instituição em Espanha, La Carraca, com o qual
gravou já uma boa meia dúzia de discos. Eugenio Rodriguez inclui na sua carreira de
músico, instrumentista e autor de arranjos a participação em grupos como La Fanega,
Barbecho e Esgueva, bem como colaborações em gravações de numerosos artistas, entre os
quais destacamos Joaquin Diaz e Maria Salgado (quer como instrumentista quer como
responsável por arranjos). Do mesmo modo que Lafuente, Eugenio Rodriguez faz parte de La
Carraca, grupo cujo espectáculo infantil em torno da música tradicional é unanimemente
considerado de inexcedível expressividade.
Assim, é absolutamente natural que
no repertório de Tradere confluam justamente muitas e variadas melodias provenientes do
legado tradicional e popular, tais como jotas, romances e rondas, passando por cantos de
trabalho, berceuses e canções picarescas, entre outras. Acresce, ainda, um
extraordinário conhecimento de toda uma multitude de expressões folk ibéricas (com
particular destaque para a atenção prestada por Jaime Lafuente ao que por lusas terras
se faz) e europeias.
E proporcionando muito mais do que
alguns momentos agradáveis, Andar Andola, o recente trabalho discográfico de Tradere, é
uma lufada de ar freco e de bom gosto ao serviço da melhor folk castelhana que nos foi
dado ouvir nos últimos tempos.
Eugenio Rodriguez: flauta, oboé,
violoncelo, dulzaina e voz | Jaime Lafuente: voz | Jesús Ronda: guitarra | Jesús
Hernández: guitarra baixo | German Díaz: sanfona e percussões (Convidado)
Sábado, 4 Agosto de 2001, às 17:00h (Largo
da Igreja)
Os Xarelos
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Era Janeiro e chovia abundantemente
na Corunha. Por sugestão do gaiteiro António Rangel, demandámos as brumosas terras do
norte da Galiza para estabelecer contactos com gentes segundo ele sempre disponíveis para
darem testemunho da sua cultura musical tradicional na Terra de Miranda, por ocasião das
sazonais celebrações intercélticas em Sendim.
O convite para participarem numas
jornadas musicais em terras mirandesas era, só por si, inegavelemnte sedutor; mas se
acrescentarmos uma galaica paixão por estas andanças da cultura popular, então
tornava-se um convite de todo irrecusável. O que jogava nitidamente a favor
das nossas inquietações e propósitos: assegurar uma forte e multidiferenciada presença
da Galiza em Sendim. E, neste sentido, Os Xarelos, disponíveis para animação de rua e
trabalho de palco, bem como para as longas noites de passagem para a descoberta das
alvoradas mirandesas.
O grupo, inserido por opção
fundamental na área da música tradicional galega, foi criado em 1995, na Corunha, por um
núcleo de entusiastas da música tradicional galega. Os seus objectivos foram desde logo
clara e inequivocamente definidos: o estudo e a divulgação da música da gaita de foles
da Galiza, com uma atitude/perspectiva de absoluto respeito pela tradição dimanada dos
velhos gaiteiros galegos.
E, de facto, a música do grupo
caracteriza-se por um escrupuloso respeito pelas melodias originalmente compostas ou
recolhidas, bem como pelo modo da respectiva interpretação. Os Xarelos cujo nome
se refere, segundo o Dicionário Xeraes da Lingua Galega, quer a uma criança alegre e
espevitada quer a uma pessoa de pouco senso, bem como a uma mulher que aprecia muitos
homens!
- estão compostos por dois gaiteiros, um tamborileiro, um bombeiro e uma
pandeireteira, sendo o respectivo repertório constituido por cerca de duas centenas e
meia de tamas bem expressivos da enorme riqueza e diversidade da música tradicional
galega. Tendo percorrido toda a vasta geografia galega, os Xarelos já actuaram noutros
locais do estado espanhol, deslocando-se agora a Portugal para darem testemunho da sua
entrega entusiástica às tarefas da defesa e divulgação da música tradicional galega.
Com a apresentação do grupo Os
Xarelos nas celebrações intercélticas de Sendim vai acontecer um (re)encontro coma a
expressão mais autêntica e enraizada da Galiza mais profunda, terra de todos os
encantamentos e seduções com a qual partilhamos um fundo cultural comum.
Domingo, 5 Agosto de 2001, às 15:00h (Largo
da Igreja)
Lelia Doura
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Em Abril de 1999, a Lelia Doura
Gaitas da Gallaecia apresentava no Teatro Rivoli (Porto) uma exposição
subordinada ao tema A Gaita e o seu Ambiente constituída por fotografias,
gravuras, desenhos, notas explicativas, gaitas e outros instrumentos musicais e de
percussão, ponteiros, palhetas, bordões, etc. O evento, enquadrado numa soma de
actividades anteriores, foi outra maneira da Lelia Doura vir à luz, de se dirigir ao
público e de ganhar novas amizades. De facto, não faltou quem apoiasse entusiasticamente
a iniciativa de fundarmos uma associação cultural dedicada ao estudo, divulgação e
dignificação da Gaita de Foles.
Como não se lhe prestou a atenção devida, a Gaita ficou reduzida à condição de
instrumento rural ou pastoril e assim tem sido até agora. Houve quem lhe dedicasse algum
tempo, mas não o suficiente para a elevar à categoria que merece, que é o que o grupo
pretende. Espera-se que com os estudos e a dedicação que estamos decididos a
prestar-lhe, seja acolhida nos meios culturais e musicais com a simpatia e o carinho que
lhe são devidos e que seja encarada, não como um adorno ou como uma curiosidade, mas
como um instrumento que, só ou acompanhado de outros instrumentos, é capaz de oferecer
belíssimos concertos e recitais.
Domingo, 5 Agosto de 2001, às 15:30h (Largo
da Igreja)
Las Fraitas
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Este é um projecto de musica
tradicional, que visa dar um novo impulso à recuperação do cancioneiro mirandés. Isto
através do alargamento do repertório para flauta pastoril com tamboril , tal como o dos
gaiteiros, já recolhido até a data. Assim como o aperfeiçoamento das técnicas de
execução instrumental que o tempo e outros factores fizeram cair em desuso. Desta forma
torna-se premente a procura fiel e credível da execução instrumental das modas do
cancioneiro. Para isso, a experiência dos elementos do grupo, dá um contributo
imprescindível no sentido de poder levar a cabo um projecto desta natureza.
Cada um dos elementos do grupo
reúne características muito peculiares, que todas juntas fazem um somatório deveras
interessante. Estes quatro músicos têm essencialmente duas coisas em comum; são todos
mirandeses e são os únicos que possuem a experiência de vários anos ( nalguns casos
bastante mais que noutros) tocando ao vivo flauta pastoril e tamboril a par com a gaita de
foles mirandesa. O grupo já gravou um disco cujo lançamento está previsto para Agosto
de 2001, com a chancela da editora Sons da Terra.
Passando às personalidades dos
músicos componentes do grupo, que abrangem várias idades, pois o Ângelo Arribas e o
Aureliano Ribeiro são sexagenários, o Abílio Topa perto dos quarenta e o Célio Pires
dos trinta. De seguida aqui vai uma breve biografia, referente às várias actividades
dentro da cultura mirandesa desenvolvida por cada um deles:
Aureliano Ribeiro: Natural de Constantim, aldeia situada na parte norte do
concelho de Miranda do douro. Filho daquele que era provavelmente o maior tocador de
fraita das terras de Miranda o Virgílio Cristal. Hoje é gaiteiro e flautista num grupo
instrumental de Constantim, denominado l´s geiteiros d´la raia por ele fundado, que
conta com várias actuações em Portugal e no estrangeiro, também é gaiteiro dos
Pauliteiros de constantim. Tem em sua casa uma oficina de artesanato onde confecciona
trajes tradicionais mirandeses tais como: trajes dos pauliteiros, dos tocadores, das
dançadeiras, e as emblemáticas capas de honra mirandesas.
Célio Pires: Natural de Constantim, junto a raia espanhola, também
integra o grupo acima citado, (que consta em vários registos discográficos) e dos
pauliteiros locais. Foi o primeiro dos poucos jovens mirandeses construtores de
instrumentos tradicionais, a iniciar a sua actividade. Conseguindo um nível bastante
razoável na afinação e sonoridade das suas gaitas de foles que têm como é
compreensível devido à proximidade, influência da terra espanhola de Aliste. Fabrica
também flautas pastorís.
Ângelo Arribas: Natural de Freixenosa aldeia situada na parte sul do
concelho nas arribas do Parque Natural do Douro Internacional. É construtor de
instrumentos tradicionais; gaitas de foles, flautas pastorís, caixas, bombos etc... Tocou
desde moço flauta de tamborileiro e caixa no mundialmente famoso Rancho dos Pauliteiros
de Miranda, de Duas Igrejas sob a direcção do padre António Mourinho. Actualmente
colabora com vários grupos de pauliteiros do planalto Mirandés e tem o seu trio de
tocadores com quem já gravou vários registos discogáficos.
Abílio Topa: Natural de fonte de Aldeia, também situada no sul do
concelho, terra plana por excelência. Dedica-se à recolha, investigação e ensino da
música tradicional mirandesa, tendo promovido e participado em publicações e
gravações discográficas nesta área. Em 1996 criou o grupo Galandum Galundaina, que
teve um papel significativo no relançar da cultura mirandesa junto dos mais
jovens. Neste grupo tocava gaita de foles e flauta com tamboril. De momento a sua
actividade no âmbito da música tradicional mirandesa, está direccionada para o projecto
las fraitas do qual é o mentor.
Em palco este o grupo aposta num
espectáculo versátil, no qual são tocados por cada um dos membros todos os instrumentos
usados na actuação que são: flauta pastoril com tamboril, caixa, bombo, pandeireta,
ferrinhos, castanholas e gaita de foles, um de cada vez de forma rotativa conforme a moda
apresentada. Alguns números incluem, duos de flauta pastoril, de gaitas de foles, e modas
cantadas.
|