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Bauls de Bengala
PABAN DAS BAUL: Paban Das Baul nasceu na aldeia de Mohammedpur na província de Murshidabad no Bengala, pátria de uma população que incarna o espírito do sincretismo entre as tradições tântrica, vishnuísta, muçulmana e budista. É conhecido desde a infância pela beleza das suas canções, pelo seu talento de improvisação e pelos estados de transe em que entra quando dança... A partir de 1980 começa a compor e a colaborar com músicos do mundo inteiro e apresenta-se em vários concertos. Será acompanhado por Mimlu Sen que tocará kartalas e a ektara e que traduz as letras.

MIMLU SEN: Poeta, escritora, intérprete-compositora, tem organizado, a partir de 1983, as digressões musicais do marido Paban Das Baul, acompanhanhando-o nos concertos, com a música e as letras das canções que contam o mundo baul. Educada pela mãe na tradição dos cantos religiosos e por um mestre de dança clássica Manipuri, teve uma educação ocidental e utiliza os seus conhecimentos culturais para criar redes de comunicação entre o mundo dos artistas bauls e novos públicos. É responsável pela Associação LUNA desde 1983.

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Porto 2001
Bauls de Bengala:
uma índia a ser redescoberta
Porto, Teatro Rivoli (Peq. Auditório), dia 17 de Março  às 23h

O Departamento de Cinema, Audiovisual e Multimédia da Capital Europeia da Cultura - Porto 2001 está a organizar o 3º módulo do "O Olhar de Ulisses - A Utopia do Real", que decorrerá de 15 a 21 de Março, no Teatro Rivoli (Pequeno Auditório).

Inserido nesta programação, no dia 17 de Março (logo após à sessão das 21:30h) decorrerá um concerto dos Bauls de Bengala - acontecendo no fim de um dia dedicado aos olhares cruzados sobre a Índia, através dos filmes de Rosselini: India, Matri Bhumi e O Rio Sagrado (The River) de Jean Renoir e a seguir a projecção do filme de Satyajit Ray "Pater Panchali" (A Balada da Estrada) do qual o autor da música é Ravi Shankar.

Os Bauls de Bengala
"Foi por isso, irmão, que me tornei baul. Aquele que não tem amos nem ordem e que a nada obedece. Nenhum sentimento humano me domina. Alegro-me com o meu próprio amor porque, em Amor, só a união conta. Assim, por cada um e por todos, alegro-me no canto e na dança."

Quem são os bauls?
Cantores místicos, monges errantes, os bauls transmitem através dos seus cantos um conhecimento essencialmente filosófico que é uma síntese das tradições budistas, vishnuistas e sufis. Podem ser comparados aos "trovadores" da Idade Média ocidental e aos "asik" da Anatólia. As suas vestes são multicores, os seus instrumentos são simples. Andam de aldeia em aldeia a pregar o amor.

Cantam diante dos altares e dos templos, nas feiras e nos festivais, nos pátios dos palácios, diante das humildes casas de adobe, entre os ricos e os pobres, nos autocarros e nos comboios e debaixo das árvores. Aos pobres, os Bauls oferecem a riqueza do espírito, aos cegos a luz divina da visão interior. Os ricos e os arrogantes só têm direito à troça e ao desprezo.

O movimento baul é, pela sua própria natureza, uma contestação religiosa. Seguem uma disciplina a que se chama "ULTASADHANA". "Baul" designa uma pessoa possuída pelo vento, o que tem a ver para com as suas características de errância. Os Bauls são "iluminados" ou "apaixonados por Deus". São quase todos analfabetos e oriundos, em grande parte, das castas baixas da sociedade hindu e muçulmana que representam três quartos da população. Através dos seus cantos transmitem as suas crenças. Têm uma mesma linguagem simples e rústica, o mesmo meio social e os mesmos valores espirituais e estéticos.

Através de metáforas que os aldeões compreendem, os Bauls explicam que o corpo humano é um recipiente de barro, o conhecimento do corpo é o fogo em que o barro é cozido e o Amor é a água que só um recipiente cozido no fogo pode conservar. Segundo as suas concepções, o corpo humano serve de templo, de mesquita ou de igreja. É a "gaiola" onde esvoaça o "pássaro desconhecido". O homem de bom coração vagueia à procura desse "pássaro desconhecido".

Bengala é uma terra de rios. O Ganges, o Bramaputra e outros rios, com os seus afluentes, descem do Himalaia e atravessam as planícies de Bengala, chegando finalmente à Baía de Bengala. Durante as monções, os rios transbordam e, muitas vezes, as margens esboroam-se. Os arrozais ficam alagados e as frágeis casas de adobe são levadas pela corrente. As epidemias levam pobres e doentes. "A vida é passageira" canta o baul. Em contrapartida, no Verão, a terra morre de sede. O camponês conhece os caprichos dos rios, nasceu junto deles e, quando morrer, será o rio a transportar as suas cinzas. "As ondas levantam as águas, como não o sentir? Porquê navegar sozinho?" canta o Baul.

Bengala é também uma terra de música. Ao pôr do sol ouve-se o canto do muezzin. O barqueiro canta ao atravessar o rio com o seu barco carregado de mercadorias, os camponeses cantarolam enquanto trabalham a terra e os miúdos que puxam os riquexós cantam também, apesar do esforço, melodias do cinema popular. As crianças cantam enquanto brincam e as mulheres cantam enquanto trabalham.

Os Bauls são apodados de "loucos" porque pedem tudo a Deus e querem que este os preencha totalmente. Deslocam-se, giram e rodopiam no meio do sopro da vida. São como possessos, extáticos. Choram de alegria, gritam de felicidade, uivam de entusiasmo, ao cantarem os seus cantos de amor. "Perdi o meu espírito, não sei onde, não sei porquê, e apesar de tudo ele está feliz" canta o Baul. Estes apaixonados não se preocupam consigo próprios.

Também não se comprazem no irrealismo. São pessoas banais com uma tradição única. Tentam viver com prazer neste mundo, tentam amar e cuidar deste mundo porque é neste mundo que está o paraíso. São uns sensuais que querem beber a própria essência do ser, que evitam os hábitos, a superficialidade, as máscaras da respeitabilidade e da ordem. "Oh coração de baul" cantam "para onde vais deixando para trás esta existência mundana?"

Num contexto destes, não custa compreender por que razão a sociedade que os rodeia, baseada na hierarquia, nos dogmas rígidos e numa ordem moral puritana, os despreza e desconfia deste grupo de menestréis nómadas e iconoclastas. Onde quer que vão, os Bauls suscitam emoções extremas, da hostilidade e condenação explícita à alegria sem limites e fervorosa. Nas aldeias de Bengala diz-se: "sopra um vento louco quando se escuta o som do alaúde baul". E há os que ficam loucos de alegria e os que ficam loucos de raiva.

Os Bauls não são adivinhos que consolam através da música. Espicaçam e provocam, encantam e importunam, inspiram os ouvintes com os seus comentários engraçados ou desagradáveis. Ao mesmo tempo que cantam o espírito de alegria da experiência religiosa condenam a beatice e a hipocrisia do puritanismo. As reacções negativas vêm, evidentemente, da ortodoxia da sociedade que vê as suas crenças postas em causa, a sua autoridade questionada e as suas práticas religiosas ridicularizadas.

Alguns cantos baul datam do século XVII mas o repertório actual surgiu no século XIX. Hoje em dia os bauls não fazem qualquer distinção entre as composições clássicas e aquelas que os poetas contemporâneos escrevem.

"Não se pode regressar uma e outra vez:
não terás um novo nascimento
Tem cuidado, oh meu espírito, está alerta.
o dia acaba e a noite cai.
O homem é um deus descido à terra:
não conspurques a linhagem humana.
É terrível ter de esconder-se
daquilo que não te atreves a dizer
Bhaba o louco diz: Abre bem os olhos e vê!
Chitragupta escreve no seu registo cada um dos teus actos.
O Senhor do mundo será o teu juíz
e não poderás esconder-lhe nada"

Canto de Bhaba o Louco, falecido em 1986

Os Instrumentos Bauls
Os Bauls acompanham os cantos e os poemas com instrumentos de música tradicionais:

Ektara: Instrumento emblemático dos Bauls, provavelmente porque a sua origem é o gopîyantra, o instrumento das pastoras de Krishna. Único no seu género, é composto por um pequeno cilindro de madeira coberto, na extremidade inferior, por uma pele à qual está ligada uma corda. Esta corda atravessa o cilindro e fixa-se do outro lado numa varinha de bambu aberta ao meio. O músico aperta a corda, carregando ao mesmo tempo na varinha, o que faz variar a altura do som.

Khamak: Tambor de dedilhar com um par de cordas em tripa atadas de um dos lados a um cilindro de madeira (que mede cerca de 30 cm.) coberto por uma pele e que é o único lado do tambor em que se toca. Do outro lado do tambor, estas cordas em tripa estão atadas a uma sineta metálica suficientemente grande para caber na mão e controlar a tensão das cordas enquanto o tambor, que é colocado ao ombro esquerdo, a tiracolo, é apertado debaixo do sovaco de encontro ao corpo. O tocador de Khamak altera a intensidade do som apertando ou soltando as cordas e fazendo pressão com o braço sobre as cordas em que bate com um plectro.

Dotara: Alaúde de quatro cordas, cuja caixa de madeira está coberta de pele. Este instrumento não é específico dos Bauls e encontra-se o dotara nas tradições musicais populares de Bengala e do Médio Oriente.

Doubki: Espécie de tamborim com três pares de sinetas.

Manjira: Trata-se de um par de címbalos em metal.

Banshi: Flauta travessa em bambu.

Ghungur: Cacho de sininhos apertado nos tornozelos cujo ritmo é dado pelos passos da dança.

 

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