Camané - CCB Dia 4 de Outubro
Mafalda Arnauth - CCB Dia 30 de
Setembro
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Camané e Mafalda Arnauth
Renova-se o FadoCamané
e Mafalda Arnauth apareceram como as grandes revelações, capazes de trazer o fado às
Luzes da Ribalta. A carreira destes dois jovens fadistas tem marcado decisivamente a
renovação do fado lisboeta dentro e fora das fronteiras portuguesas. Os espectáculos no
grande auditório do CCB - Mafalda Arnauth (dia 30 de Setembro) e Camané (4 de Outubro)
são bem prova disso.
Camané
Tem a ver com a alma, como o título indica, tem a ver com a melancolia e a
reflexão temporal que se espera do fado no seu melhor, tem a ver com os amores perdidos e
com as ruas de Lisboa. E, no entanto, ao terceiro álbum, Camané continua a surpreender -
pela vontade, pela constância, sobretudo pelo bom gosto. Pode apontar-se-lhe a
influência preciosa da mão de José Mário Branco na construção deste som, que, ao já
conhecido trio constituído por Camané, Carlos Manuel Proença (viola) e José Manuel
Neto (guitarra portuguesa), veio acrescentar os inéditos e harmónicos sons do
contrabaixo, num disco interpretados de forma notável por Carlos Bica.
Pode nomear-se a cuidada selecção de textos, em que clássicos anteriormente
não-musicados - de Antero de Quental, Fernando Pessoa, Edmundo de Bettencourt e Júlio
Dinis - convivem alegremente com textos inéditos de Aldina Duarte (também eles
notáveis), Manuela de Freitas, Amélia Muge e João Monge. Mas tudo isto só ganha
sentido, e um outro sentido, quando se lhe acrescenta um suplemento de alma, essa coisa
que cabe ao intérprete e que aqui se aprende a cada passo. É que o lugar do intérprete
é também o lugar do dizer, o das coisas da língua. Em caso de dúvida, vejam-se os
textos originais e as variações por ele introduzidas no canto. Logo que possível,
verifique-se o assunto ao vivo.
Mafalda Arnauth
Mafalda Arnauth é já uma grande referência na Música Portuguesa, ao fazer parte
da nova geração de fadistas que, de certa forma, são os novos grandes embaixadores da
Música Portuguesa além fronteiras. Com apenas 25 anos, Mafalda Arnauth construiu uma
carreira nada previsível, já que náo tinha em adolescente grandes sinais de
inclinações fadistas, nem tão pouco qualquer referência familiar que a conduzisse a
tamanho sucesso.
As composições interpretadas pela fadista são por ela compostas, permitindo-lhe
um tratamento pessoal e de acordo com a sua própria visão do fado tradicional, não
visando a sua adulteração mas antes a tentativa de fazer emanar das canções que
interpreta um sentimento muito próprio - muitas vezes de alegria e não de tristeza.
Hoje Mafalda Arnauth é considerada uma das grandes esperanças da renovação do fado,
cuja internacionalização é cada vez mais evidente: constantes actuações na Holanda,
Bélgica, Alemanha e Áustria, a par de um número considerável de concertos já
agendados para a Dinamarca, Itália e Grécia, fazem de Arnauth uma das mais requisitadas
cantoras portuguesas: "A devoção com que o público estrangeiro assiste aos
concertos faz-me acreditar na universalidade dos valores do fado".
Esta tendência vem a contrariar aqueles que acreditavam no declínio deste género após
o desaparecimento de Amália Rodrigues...
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