Concerto ao vivo na Aula
Magna
Adufe, em grande
João Maia (22 de Março 2000)O
Adufe é um projecto musical centrado no instrumento tradicional do mesmo nome, concebido
pelo outrora baterista dos Trovante e actual membro dos Gaiteiros de Lisboa, José
Salgueiro. Depois de várias apresentações ao público, que começaram na Expo 98 e têm
continuado desde então, o Adufe voltou a soar na Aula Magna assinalando o início das
comemorações da Semana da Juventude em Lisboa. Apesar da pouca divulgação do
espetáculo, o que é sempre de lamentar, a Aula Magna apresentou-se relativamente
composta, na sua maioria com jovens, o que se compreende devido ao maior esforço de
divulgação ter partido de Associações de Estudantes.
Salgueiro apresentou-se desta vez com alguns elementos que já tinham estado
presentes em outras apresentações do Adufe (Alexandre Manaia, na guitarra, Daniel
Morgado, Hugo Xavier, Pedro Marques e Paulo Charneca nos Adufes, e o seu companheiro dos
Gaiteiros, Rui Vaz, na voz, gaita de foles e tin whistle), e com um convidado muito
especial: Artur Fernandes, dos Danças Ocultas na concertina. Destaque também para a
participação do grupo das Adufeiras de Monsanto (afinal faz todo o sentido que num
espetáculo dedicado ao Adufe estejam presentes aquelas que se dedicam ao instrumento há
mais tempo...)
Quem nunca havia presenciado este espetáculo, quando vê o palco pela primeira
vez, não pode deixar de ficar impressionado com as quatro réplicas gigantes de adufes
que ocupam grande parte do espaço que os artistas pisam. Esta sensação de espanto
torna-se mais intensa quando o espetáculo propriamente dito começa, ou seja, quando
começamos a ouvir e a sentir o poderoso som dos quatro adufes que se assemelham a uma
enorme trovoada. Apesar do poder transmitido pelo soar dos adufes gigantes, isto nem
sempre terá sido benéfico, uma vez que - especialmente no início - instrumentos como a
concertina e o tin whistle eram quase imperceptíveis ao público, muito embora este
pequeno probelma tenha sido corrigido no decorrer do concerto.
De qualquer modo, foi um concerto muito bom, reforçando a grande componente
rítmica (como se esperaria de um projecto dedicado a um instrumento de percussão), que
decorreu alternando composições do "Adufe", com outras tradicionais
interpretadas pelas Adufeiras de Monsanto (ora "a solo", ora acompanhadas pelos
restantes músicos). Mais uma vez ficou demonstrado, se necessário fosse, o porquê de
Salgueiro ser considerado como um dos melhores percussionistas portugueses. Esperemos,
para bem da música,que continuem a haver mais apresentações deste projecto Adufe no
futuro.