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Tangos em Lisboa
Forever Tango

Grande Auditório do CCB entre 31 de Fevereiro e 12 de Março às 21:30h
Nos dias 4, 5, 11  e 12 também às 16:00h

"Forever Tango" - espectáculo aclamado na Broadway - estreia-se em Portugal a partir do dia 29 de Fevereiro a sua primeira apresentação, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém em Lisboa, continuando até ao dia 12 de Março.

Tal como afirma o criador deste espectáculo, "Tango é um sentimento que se dança. Cada história conta-se em três minutos. É paixão, é melancolia. É terno. Mais do que uma dança, Tango é música, drama, uma cultura, um modo de vida".

São histórias que contam as vidas dos argentinos das zonas portuárias de Buenos Aires, os seus amores, raivas, momentos de coragem e, claro, o seu ego machista...

Cabe a Lisandro Adrover a direcção musical deste espectáculo, cujos solistas são Miriam Larici, Cesar Coelho, Oscar Mandagaran, Natália Gomez Hill e dos pares Carlos Vera e Laura Marcarte, Carlos Gaviro e Marcela Duran, Luis Castro e Claudia Mendonza, Jorge Torres e Karina Piazza, Hugo Patyn e Carolina Garcia, Carla Chimento e Patricio Touceda.

A música, interpretada ao vivo, terá na voz Carlos Morel e Lisandro Adrover, Victor Lavallén, Miguel Varvello e Carlos Nieisi nos bandeneóns ("concertina" típica da argentina), além de Humberto Ridolfi, Rodion Boshoer nos violinos, Alexander Sechkin na viola, Daniel Pucci no violoncelo, Silvio Acosta (baixo), Fernando Marzán (piano) r, finalmente, Mario Araola nas teclas.

"Prelúdio do Bandonéon e da Noite", "O Subúrbio", "No Hansen", "O Canto", "La Mariposa", "Paris", "Bandonéon", "O Humor", "O Abandono", "Candombe", "Tanguera", "A Conquista", "Milonga", "Dança", "Galo Cego", "O Louco", "Três Pares", "Ciúmes", "Luís Machito Carlos", "O Anjo Músico", "Um Vampiro", "Romance do Bandémon e da Noite", são algumas das histórias que deste "forever tango, interpretadoss por alguns dos melhores bailarinos e músicos do tango argentino.

O espectáculo apresenta-se sempre às 21h30 até 12 de Março e ainda nos dias 4, 5, 11 e 12 pelas 16h00. Os bilhetes já estão à venda com preços que oscilam entre os 2500 e os 6 mil escudos. Fonte: Correio da Manhã

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Macho Bandoneón
Texto publicado por FERNANDO MAGALHÃES
Sexta-feira, 3 de Março de 2000, no Jornal Público

"Forever Tango" será para sempre porque eterna é a luta e o abraço entre homem e mulher. No CCB, em espectáculo de estreia, a companhia de tango de Luís Bravo mostrou como esta dança guerreira sem vencedores nem vencidos pode ser vivida como um espectáculo de luz e lantejoulas. A tragédia esconde-se por detrás, mas aplauda-se a luz e a "féerie".

No princípio, junto ao Rio de la Plata, na Argentina, era o instinto, a luta e a conquista. Bordéis de madamas, chicas pupillas e compadritos em comércio de sexo e fantasmas. No princípio de "Forever Tango", espectáculo dirigido por Luís Bravo que o público lisboeta poderá ver no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, até ao próximo dia 12 (excepto 2ª feira), é o quadro "O subúrbio" - imagem estilizada do bordel, com o macho em pose dominadora rodeado de mulheres, todas elas envergando cabeleiras louras. Postiças. Como tudo no tango quando apenas observado à flor da pele.

Neste quadro, o compadrito luta por uma mulher. Forma-se um bando. Ciúmes. Posse. Acontece o duelo. A partir deste momento inicial onde estão contidos os genes - da psicologia mais profunda aos lugares-comuns mais "ridículos" - do tango, o espectáculo segue numa cadência de música e dança onde a sofisticação e o aparato visual imperam.

O tango, como o fado, é arte de representação. Quanto mais exagerados, mais verdadeiros. Só que o fado representa-se para dentro enquanto o tango se representa para fora. As cabeleiras das mulheres, a brilhantina dos homens são sinais desse teatro que, do outro lado, por dentro, se desmonta num drama apenas perceptível para os que também foram atingidos pela seta de Cupido.

Mas, sendo irmãos, fado e tango são diferentes e complementares na sua essência. O fado é crucificação da alma. Feminino. Mulher. A solidão da mulher. Amália. O tango é fogueira do espírito. Masculino. Homem. A solidão do homem. Carlos Gardel.

O fado é feminino porque nasce no mar. Lisboa, além... O tango é masculino porque nasce nas margens. Buenos Aires. O fado, sendo mar, não tem limites. Impreciso. O tango, sendo porto, vive entre muralhas. Finito. No fado, o feminino sente saudade do centro masculino. No tango, o masculino suspira pelo ventre feminino. Por isso o fado é saudade de Deus. Por isso o tango é saudade da mãe. No fado, a mulher chora amparada na guitarra. O homem comanda. No tango, o homem, embora fingindo-se galo, chora na respiração sacudida do bandoneón. A mulher comanda.

Nos passos de dança do par mais velho de "Forever Tango", Carlos Gavito, o tanguero velho, e Marcela Durán, a mulher fatal, é revelada, de forma quase chocante, em toda a sua nudez, a verdade-mentira do tango. Em "O abandono" e "A conquista", os dois amparam-se mutuamente, tombam um para o outro, um no outro. Nestes dois quadros se percebe que é ela, apesar do desejo violento em querer entregar-se, de se deixar cair para ele, quem comanda a dança: "Que se passa? Não desistas...nunca desistas. Toda a mulher é conquistável e o homem tem obrigação de tentar". Ele é cópia, marioneta gasta. Perdido no vazio do que não fez. "Por acaso o homem depende sempre de uma mulher?", pergunta-se em "A conquista". Dançam, no primeiro quadro, a música de Piazzola, no segundo, "A Evaristo carriego", de E. Rovira.

No tango, o homem encena a sua masculinidade; a mulher, a sua feminilidade. Encena-se a paixão. As suas cenas. Com gestos largos. As coreografias, pujantes de virtuosismo e sensibilidade, de Luís Castro e Claudia Mendoza, em "O humor" (desmontagem do lado mais risível do tango, sobre música de F. Canaro), o canto semi-declamadao de Carlos Morel, em "O louco", a sedução mortífera de Jorge Torres a Karina Piazza (só travestido de ser sobrenatural o homem consegue dominar o corpo da mulher...) em "Um vampiro", são outras tantas maneiras de fazer este teatro que apenas na fuga instrumental dos quatro bandoneons, em "Bandoneón", consegue libertar-se do baile mortal das emoções sem céu.

No encore (exigido pelo público que aplaudiu de pé), Miriam Larici e Cesar Coelho repetem os passos de dança do último quadro de "Forever Tango", "Romance do bandoneón e da noite". Como que a dizer que a paixão é a maior das ilusões. Algo sempre repetido. E sempre interrompido. 
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